Catarata e DMRI são as principais causas de cegueira na América Latina
Uma avaliação dos dados de 2010 mostrou que os erros de refração não corrigidos eram a causa mais comum de comprometimento visual moderado/grave.
A prevalência de cegueira na América Latina e no Caribe caiu pela metade de 1990 até 2010, apesar de a catarata ainda ser o principal fator da cegueira, de acordo com um estudo.
Janet L. Leasher, OD, MPH, FAAO, e colegas no Vision Loss Expert Group do Global Burden of Disease Study relataram que “avaliaram sistematicamente a literatura publicada de 1980 a 2012 sobre a incidência e a prevalência de cegueira e comprometimento visual a partir de estudos representativos nacionais e de estudos locais de avaliação rápida”.
Eles geraram um banco de dados da prevalência global estimada de perda de visão por idade e sexo para 190 países e 21 sub-regiões globais, segundo eles, mas terminaram utilizando dados de apenas seis estudos que eram representativos nacionalmente.
“Os níveis de cegueira nas sub-regiões da América Latina e no Caribe (ALC) geralmente estão próximos da média global para todas as idades e para homens e mulheres com 50 anos ou mais”, relataram os pesquisadores no British Journal of Ophthalmology. “Entretanto, as médias padronizadas por idade de comprometimento visual moderado/grave (MSVI) são ligeiramente mais altas que a média mundial na América Latina andina e ligeiramente mais baixas no sul da América Latina.”
Diminuição na prevalência, aumento no número total
De acordo com o estudo, o número de pessoas cegas na América Latina e no Caribe era estimado em 2,2 milhões em 1990 e subiu para 2,3 milhões em 2010. A prevalência da cegueira diminuiu, mas o número total de pessoas cegas aumentou ou permaneceu o mesmo.
Os pesquisadores também relataram que o número daqueles com MSVI aumentou de 12,5 milhões em 1990 para 14,1 milhões em 2010.
Os autores escreveram que, embora a prevalência da cegueira e do MSVI tenham diminuído nesta região, “com o aumento no tamanho e na idade da população, o número [de pessoas] com perda visual na região ainda é substancial”.
“A catarata continua a ser a causa mais comum de cegueira em todas as regiões da América Latina e do Caribe, exceto no sul da América Latina, onde a degeneração macular emergiu como a causa mais comum”, afirmaram.
Leasher e seus colegas disseram que metade do MSVI pode ser atribuída ao erro de refração não corrigido, o qual pode ser controlado de forma econômica com serviços de refração e correção com óculos.
Eles também observaram a necessidade de investigar outras potenciais causas, tal como lesões, deficiência vitamínica, tracoma, oncocercose, toxoplasmose ocular, rubéola, retinopatia da prematuridade, retinite pigmentosa ou defeitos genéticos ou congênitos, embora Leasher tenha declarado à Ocular Surgery News que esforços para tratar destas áreas estejam em andamento.
Os pesquisadores presumiram: “A mudança na proporção na causa atribuível da cegueira e do comprometimento visual, juntamente com a redução na perda de visão relacionada à catarata, pode ser devido à maior atenção programática às intervenções cirúrgicas de catarata. Entretanto, o aumento na perda de visão devido à degeneração macular, à retinopatia diabética e ao glaucoma é alarmante e justifica maior intervenção”.
Êxitos na região
O Dr. Juan Carlos Silva, coordenador para prevenção da cegueira da Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), disse à OSN que as unidades neonatais de tratamento intensivo estão reduzindo a incidência de retinopatia da prematuridade como resultado da crescente qualidade dos padrões de cuidados na América Latina.
Leasher discutiu outros êxitos na região como resultado do Vision 2020: a campanha global Right to Sight e esforços da OPAS, da International Agency for the Prevention of Blindness e de outros grupos.
Ela informou que tais esforços incluem a formação de comitês nacionais que implementam planos de ação para prevenção da cegueira; a priorização da saúde ocular pelos ministérios da saúde; a maior qualidade e quantidade de residências e serviços oftalmológicos; maior educação e treinamento para todos os profissionais da saúde; melhor colaboração entre oculistas, optometristas, enfermeiras oftálmicas e técnicos na comunidade; e maior suporte da indústria.
Em minha opinião, devemos continuar a construir sobre o que foi alcançado até hoje”, afirmou Leasher, “usando uma combinação de programas verticais de controle de doenças e programas horizontais de corte cruzado para melhorar o acesso universal ao tratamento ocular e visual. Os programas devem incluir a avaliação e a atenção voltadas para os determinantes sociais da saúde ocular”.
Perspectivas futuras
Os autores do estudo afirmaram que “são necessários esforços mais intensos para atender o objetivo de reduzir em 25% a cegueira evitável até 2019 da World Health Organization”.
Silva declarou à OSN que o ano da linha de base foi 2010, mas que não há estimativas disponíveis para 2013.
Segundo Leasher, “Este é um objetivo elevado; levou 20 anos para reduzirmos a prevalência da cegueira em 50% e estamos pedindo outra redução de 25% em apenas 5 anos. Isso exigirá esforços coordenados e focados intensivos do governo, agências não governamentais e de todos os profissionais da saúde ocular para alcançar este objetivo”.
Leasher observou que o estudo Global Burden of Disease está em andamento e que o Vision Loss Expert Group está no processo de concluir a atualização global de 2013, o qual envolverá vários estudos não incluídos originalmente na análise de 2010.
“Nem todos os países da América Latina ou do Caribe concluíram pesquisas nacionais sobre a prevalência da cegueira”, acrescentou ela. “Isso deve ser uma prioridade para todos os países, a fim de compreender a magnitude e as tendências nacionais e ter a capacidade de planejar melhor o número, o tipo e a distribuição dos serviços.”
Silva acrescentou que o plano regional da OPAS para a prevenção da cegueira e do comprometimento visual 2014-2019 foi aprovado pelos ministérios da saúde no comitê executivo da OPAS em junho. – por Nancy Hemphill, ELS
- Referência:
- Leasher JL et al. Br J Ophthalmol. 2014:98:619-628. doi:10.1136/bjophthalmol-2013-304013.
- Janet L. Leasher, OD, MPH, FAAO, é professora associada/diretora de alcance comunitário e diretora da UNESCO em saúde visual e desenvolvimento na Nova Southeastern University, Ft. Lauderdale, Fla., EUA. Ela pode ser encontrada em +1-954- 262-1456; leasher@nova.edu.
- O Dr. Juan Carlos Silva, é coordenador da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para prevenção da cegueira. Ele pode ser encontrado em juasilva@col.ops-oms.org.
Divulgação de informações: Este estudo foi parcialmente patrocinado pela Bill & Melinda Gates Foundation, Fight for Sight, Fred Hollows Foundation e pelo Brien Holden Vision Institute.