Supressão de micróglia pode desacelerar a degeneração dos fotorreceptores na retinite pigmentosa
A supressão das células microgliais que predam os fotorreceptores pode adiar a degeneração dos fotorreceptores, como ocorre na retinite pigmentosa, de acordo com um investigador da NIH.
“Embora a retinite pigmentosa permaneça uma causa principal de cegueira em pessoas jovens, tanto neste país como no mundo inteiro, hoje ainda não há um tratamento abrangente disponível. Queríamos compreender melhor a doença a partir de ângulos diferentes para o tratamento eficaz que possam não curá-la completamente, mas talvez ampliar o período de tempo pelo qual os pacientes mantêm a visão”, afirmou o Dr. Wai T. Wong, PhD, sobre a pesquisa publicada na EMBO Molecular Medicine.
A retinite pigmentosa é uma doença hereditária da retina que tipicamente envolve a mutação de um gene nos fotorreceptores; entretanto, não é fácil corrigir o gene para curar essa condição.
“Há uma ampla variedade de genes que são responsáveis pela RP”, afirmou Wong à Ocular Surgery News. “É difícil e demorado tratar cada um dos genes com abordagens de terapia genética individual, desta forma os tratamentos auxiliares para desacelerar a progressão podem ajudar.”
Estudo inicial
Foi encontrada neuroinflamação da retina no contexto da retinite pigmentosa durante a degeneração do fotorreceptor. A equipe de Wong, envolvendo os cientistas principais Dr. Lian Zhao, PhD, Dr. Matthew K. Zabel, PhD, e o Dr. Xu Wang, PhD, buscou identificar a origem e a natureza desta neuroinflamação e explorar se e como ela contribui para a degeneração do fotorreceptor.
Utilizando um modelo de retinite pigmentosa em camundongos, os investigadores descobriram que em uma fase precoce da degeneração, as células imunes residentes na retina (micróglia) migram para os fotorreceptores e iniciam a fagocitose, com o que os fotorreceptores vivos, mas estressados, são engolfados e digeridos pela micróglia. Em experimentos no modelo com camundongos, nos quais as micróglias foram esgotadas da retina ou seu comportamento de engolfamento foi farmacologicamente inibido, a degeneração dos fotorreceptores foi desacelerada e a resposta elétrica à luz foi aumentada.
“Nos grupos de controle, a degeneração avançou com o tempo, como esperado”, afirmou Wong. “Mas no grupo da intervenção, a degeneração foi significativamente desacelerada. Isso indica que, além da natureza de mutação nos fotorreceptores, a micróglia pode contribuir para aumentar a taxa geral de degeneração. Observamos que a micróglia estava auxiliando e encorajando o processo de degeneração através do abate ativo destes fotorreceptores ameaçados.”
Imagem: Dr. Wai T. Wong, PhD, National Eye Institute/NIH
Baseados na observação de que a micróglia tem um papel ativo na degeneração, juntamente com os resultados indicando que a inibição da atividade engolfamento da micróglia pode salvar fotorreceptores e aumentar a função visual, os investigadores foram encorajados [a acreditar] que o mesmo pode ocorrer em humanos para prolongar o período pelo qual os pacientes podem enxergar.
“Visar a micróglia não chegará à causa-raiz da doença, mas diminuirá as forças que impulsionam a degeneração”, disse Wong.
Continuando a pesquisa
Wong faz parte de um teste clínico de fase 2 em andamento liderado por sua colega do NIH Dra. Catherine A. Cukras, PhD, que consiste de cinco pacientes com retinite pigmentosa que estão recebendo tratamento oral com minociclina, um antibiótico de tetraciclina de amplo espectro, aprovado pela FDA que atualmente é muito utilizado para o tratamento de acne e rosácea. Esse medicamento também inibe a atividade da micróglia. Nesse estudo, são dadas 100 mg de minociclina duas vezes ao dia. Os dois endpoints do estudo são aos 6 e aos 12 meses.
“Estamos apostando nas propriedades anti-inflamatórias da minociclina para reduzir a ativação e a atividade da micróglia”, afirmou Wong. Além disso, esse medicamento tem um bom perfil de segurança e está em uso há décadas.
Diversos outros estudos do NEI estão em curso utilizando a minociclina para suprimir a micróglia em outras doenças da retina, inclusive um para a oclusão da veia retinal liderado por Cukras. A minociclina também demonstrou preliminarmente eficácia no tratamento o edema macular diabético em um estudo que apareceu em 2012 na Investigative Ophthalmology & Visual Science liderado por Wong e Cukras.
“Ao inibir a micróglia, a minociclina pode ter sido útil na redução da quantidade de edema quando utilizada como monoterapia e pode ser vista como um possível tratamento auxiliar”, disse Wong. – por Bob Kronemyer
- Referências:
- Cukras CA, et al. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2012;doi:10.1167/iovs.11-9413.
- Zhao L, et al. EMBO Mol Med. 2015;doi:10.15252/emmm.201505298.
- Para obter mais informações:
- O Dr. Wai T. Wong, PhD, pode ser encontrado no 6 Center Drive, Building 6, Room 217, Bethesda, MD 20892; e-mail: wongw@nei.nih.gov.
Divulgação de informações: Wong informa não ter interesses financeiros relevantes a serem divulgados.