Relatório: AINEs não evitam a perda de visão em longo prazo causada por EMC
Contrário à crença popular, AINEs e corticosteroides não atuam sinergeticamente na redução do risco em longo prazo após a cirurgia de catarata.
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Não há evidências suficientes de que antiinflamatórios não profiláticos sozinhos ou em conjunto com corticosteroides reduzam a perda de visão causada por edema macular cistoide 3 meses ou mais após a cirurgia de catarata, de acordo com um relatório da American Academy of Ophthalmology.
Frequentemente, a EMC é resolvida de forma espontânea. Embora AINEs antes da cirurgia possam acelerar a recuperação visual e reduzir a incidência de EMC em curto prazo, não há evidências de que eles afetem os resultados visuais em longo prazo, afirmam os autores do relatório.
“Já se tornou quase uma prática comum ou até mesmo um padrão assistencial, para os cirurgiões de catarata, colocar rotineiramente os pacientes, independentemente dos seus fatores de risco, em um [medicamento] não esteroide tópico além de um corticosteroide”, afirmou o Dr. Stephen J. Kim, autor do estudo, ao Ocular Surgery News. “Eles não estão utilizando o [medicamento] não esteroide para substituir o corticosteroide, eles os estão usando em conjunto.”
Segundo Kim, o custo de administrar AINEs em conjunto com corticosteroides aos cerca de 3 milhões de pacientes submetidos à cirurgia de catarata anualmente nos EUA é alto.
Do ponto de vista do custo social, se analisarmos os AINEs de marca, é de cerca de US$ 200 o frasco. O custo do uso rotineiro de AINE chega a US$ 700 milhões por ano, tudo isso por algo que não tem influência favorável comprovada nos resultados finais”, afirmou Kim.
O “Ophthalmic Technology Assessment” escrito pelo “Ophthalmic Technology Assessment Committee Retina/Vitreous Panel” da AAO foi publicado em Ophthalmology.
Kim e os coautores pesquisaram o banco de dados da PubMed e da Cochrane Library, recuperaram 149 citações únicas, analisaram os resumos e selecionaram 27 artigos para analisar o texto completo em busca de possível relevância clínica. Dos 27 artigos, 12 foram julgados relevantes para análise em sua totalidade. Dois artigos adicionais foram identificados nas listas de referência dos artigos selecionados e outro artigo foi identificado em um encontro nacional.
Nenhum relacionamento simbiótico
Kim e seus colegas relataram que a literatura publicada não dá suporte à crença de que AINEs e corticosteroides agem de forma sinergética.
“Essencialmente, quando analisamos toda a literatura, não encontramos evidência de que estes medicamentos são sinergéticos. Eles podem ser aditivos, caso em que um medicamento poderia ser suficientemente dosado para replicar os efeitos de ambos. Eles não adicionam uma vantagem terapêutica única. Eles são meio que redundantes”, afirmou Kim. “Se os [médicos] estão preocupados sobre colocar alguém em um AINE, podem simplesmente aumentar a dosagem do corticosteroide. Desta forma, ao invés de quatro vezes ao dia, podem utilizar o corticosteroide seis ou oito vezes por dia. A partir de nossa análise, essa prática pode ter eficácia similar com custo menor.”
Os estudos que avaliam o efeito terapêutico dos AINEs devem ser controlados, focados principalmente nos resultados visuais em longo prazo e envolver a avaliação rigorosa da melhor acuidade visual corrigida utilizando gráficos de acuidade ETDRS padronizados, afirmaram os autores.
Efeitos colaterais e riscos
Diferentemente dos AINEs, os corticosteroides estão associados a PIO elevada após a cirurgia de catarata. Entretanto, os picos de PIO são em geral moderados e temporários.
“A maioria dos picos de PIO será mínima e administrável durante o curto período de tempo que o corticosteroide é aplicado”, disse Kim.
Kim e seus colegas observaram que, embora a EMC seja mais prevalente entre os pacientes com diabetes e uveíte, a terapia de AINE ainda não está comprovada para reduzir o risco em longo prazo do EMC nestes pacientes de risco mais alto, afirmou ele.
“Não tenho certeza se existe qualquer grupo para o qual eu recomendaria necessariamente utilizar AINEs em conjunto com corticosteroides. Não existem evidências para suportar isso. Mas eu concordaria que definitivamente existe um subgrupo de olhos que tem maior risco de EMC após a cirurgia de catarata e pode necessitar de mais profilaxia e monitoração do que os olhos de baixo risco”, disse Kim.
Kim afirmou que o EMC visualmente insignificante pode ser superdiagnosticado na TCO.
“Pode haver a percepção de que o espessamento moderado é prejudicial, mas em muitos casos, o espessamento moderado não é visualmente importante e não tem consequências em longo prazo”, afirmou Kim. “Penso que a facilidade de geração de imagens e a não invasividade da TCO tem levado ao diagnóstico exagerado de edema macular cistoide clinicamente importante. Hoje estamos detectando com mais frequência, mas os pacientes ainda veem 20/25 porque ele é moderado. A visão dos pacientes não é realmente afetada e ele provavelmente se resolverá de forma espontânea.”
O relato padronizado de EMC com base nas descobertas em TCO pode permitir uma avaliação mais uniforme da incidência de EMC e uma avaliação mais confiável sobre os resultados do tratamento, diz o relatório. – por Matt Hasson
- Referência:
- Kim SJ, et al. Ophthalmology. 2015;doi:10.1016/j.ophtha.2015.05.014.
- Para obter mais informações:
- O Dr. Stephen J. Kim pode ser encontrado no Vanderbilt Eye Institute, 2311 Pierce Ave., Nashville, TN 37232; e-mail: stephen.j.kim@vanderbilt.edu.
Divulgação de informações: Kim informa não ter interesses financeiros relevantes a serem divulgados.