July 01, 2015
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Estudo: Usuários de estatina podem ter menor risco de uveíte

As estatinas podem ajudar a reforçar a barreira hemato-retiniana através da redução na formação de radicais sem oxigênio e do aumento nos níveis de óxido nítrico.

Em um estudo, a possibilidade de os usuários de estatina desenvolver uveíte foi aproximadamente a metade daquela dos não usuários de estatina, de acordo com um dos autores.

“Após ajustar para os efeitos da idade, sexo, raça e doenças autoimunes, descobrimos que, utilizando a população geral como controle, as chances de um usuário de estatina desenvolver uveíte era 48% menor do que aquela dos pacientes que não tomam estatinas (P = 0,03)”, afirmou a autora principal do estudo, Dra. Nisha R. Acharya, ao Ocular Surgery News. “Os resultados foram similares ao utilizar o grupo de controle oftalmológico, embora o valor de P não tenha sido estatisticamente significativo nessa comparação”.

Concepção do estudo

O estudo de controle de casos retrospectivo, publicado no American Journal of Ophthalmology e que foi parte do Pacific Ocular Inflammation Study, analisou as fichas médicas de 108 pacientes com novo diagnóstico de uveíte no plano de saúde Kaiser Permanente Hawaii entre janeiro de 2006 e dezembro de 2007. Foram selecionados aleatoriamente dois grupos de controle em uma proporção de casos de 5:1 — 540 controles na população geral do Kaiser (pacientes vistos no sistema de saúde durante o período do estudo) e 540 controles vistos na clínica oftalmológica do Kaiser durante o mesmo período.

Acharya afirma que os resultados do estudo não foram surpreendentes. “De qualquer modo, é bom confirmar uma suspeita clínica”, afirmou ela. “Do ponto de vista científico, faz sentido que as estatinas possam modular o processo inflamatório e afetar o desenvolvimento de condições como a da uveíte”.

Benefícios das estatinas

Os autores observaram que diversos estudos têm demonstrado benefícios anti-inflamatórios e imuno-modulatórios adicionais das estatinas em uma variedade de doenças sistêmicas, inclusive vários tipos de câncer, doenças inflamatórias intestinais e artrite reumatoide.

“Alguns estudos têm demonstrado um efeito protetor desta classe de medicamentos para as doenças oculares, como a degeneração macular relacionada à idade”, afirmou Acharya. Vários estudos laboratoriais também sugerem propriedades anti-inflamatórias das estatinas em modelos com animais com uveíte autoimune experimental (UAE).

Além disso, um estudo clínico de controle de casos encontrou uma associação de proteção não significativa entre o uso de estatina e todos os tipos de doenças inflamatórias, segundo Acharya.

Apoiados nos dados desses estudos, os autores quiseram aprofundar o estudo sobre se o uso da estatina estava associado com a uveíte.

“Havia plausibilidade baseada em outros estudos clínicos e em animais e também a necessidade de identificar tratamentos que pudessem modular o surgimento ou a gravidade da uveíte”, afirmou Acharya.

As estatinas têm demonstrado capacidade para reduzir as principais citocinas inflamatórias, como as interleucinas 6 e 8, a TNF-alfa e a proteína C reativa.

“Além disso, essa classe de medicamentos tem demonstrado reduzir as interações entre os leucócitos e as células endoteliais através da via da molécula 1 de adesão intercelular”, disse Acharya. “Isso pode evitar a migração de leucócitos pela barreira hemato-retiniana, desta forma reduzindo a inflamação intraocular”.

Da mesma forma, as estatinas podem ajudar a reforçar a barreira hemato-retiniana através da redução na formação de radicais sem oxigênio e do aumento nos níveis de óxido nítrico.

“Muitos desses mecanismos foram demonstrados em estudos anteriores utilizando modelos com animais de UAE”, afirmou Acharya.

Tem sido demonstrado que o fumo está associado ao desenvolvimento da uveíte, mas uma análise de sensibilidade para avaliar o efeito do status atual de fumar não afeta o vínculo entre o uso da estatina e a uveíte.

Os autores também questionaram se pode haver benefício terapêutico das estatinas após o diagnóstico da uveíte em termos de gravidade e curso da doença, principalmente em razão do “perfil de efeitos colaterais relativamente benigno” das estatinas quando comparadas às terapias imunossupressoras sistêmicas.

Apesar de os autores não estarem envolvidos atualmente em um estudo de acompanhamento, eles esperam investigar mais a associação da utilização de estatina à uveíte em outras populações.

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“Também estamos interessados em aprofundar o estudo para verificar o efeito das estatinas por raça”, afirmou Acharya. – por Bob Kronemyer

Divulgação de informações: Acharya informa não ter interesses financeiros relevantes a serem divulgados.