Pesquisa detecta diferenças entre aberrações de alta ordem na ptose congênita em comparação com olhos normais
Os pacientes analisados tinham entre 7 e 35 anos.
A ptose congênita da pálpebra superior se caracteriza pela queda da pálpebra superior desde a infância devido à má-formação do músculo levantador, como mostrado nas Figuras 1, 2 e 3. A ptose é simples quando não há movimento anormal do olho, Síndrome de Marcus Gunn, estrabismo ou anormalidade inervacional.
Sabe-se que a anormalidade na pálpebra superior de longo prazo pode provocar alterações na superfície da córnea. Aqui, analisamos as aberrações de alta ordem na ptose congênita. Não existem estudos anteriores sobre este tema.
Estudo
Nossa pesquisa consistiu em uma série de casos comparativos observacionais de perfis de aberração de alta ordem de pacientes com ptose congênita unilateral. Os pacientes foram selecionados na clínica especializada em oculoplastia Dr. Agarwal’s Eye Hospital and Eye Research Centre. Foram excluídos os pacientes com menos de 5 anos de idade, que não podiam colaborar, e os pacientes com ptose congênita complexa, anormalidade do filme lacrimal, sinal de Bell anormal, ametropia superior a 2 D ou histórico de cirurgia ocular.
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Amar Agarwal
As aberrações oculares de alta ordem foram medidas com a estação de trabalho Zywave (Baush + Lomb), um aparelho baseado no princípio de Shack-Hartmann. Todas as medidas de aberrometria foram realizadas entre as 14 horas e as 18 horas para compensar a variação diurna. As análises de aberrometria foram realizadas tanto no olho com ptose como no outro olho por um único examinador. Dos 23 olhos com ptose congênita de 23 pacientes, nove eram no olho direito e 14 no olho esquerdo.
Uma diferença significativa (P = ,005) foi observada no trifólio vertical coeficiente de Zernike de terceira ordem (z331) entre o olho com ptose e o outro olho. O z331 médio foi de –0,13 ± 0,17 nos olhos com ptose e de –0,03 ± 0,13 nos olhos normais. Não houve diferença significativa na coma vertical, na coma horizontal ou na coma total. Houve uma diferença significativa nos coeficientes z421 (P =,041) e z420 (P = ,027) de quarta ordem. Houve uma diferença significativa (P = ,008) na raiz quadrada média total entre os olhos com ptose e os olhos normais.
Discussão
Demonstrou-se que a mudança de lugar da pálpebra durante as atividades diárias pode afetar a topografia corneana e as aberrações oculares. A posição da pálpebra durante as atividades é um fator importante que faz a diferença nas aberrações. Em nossa série, observou-se uma redução evidente na altura da abertura da pálpebra nos olhos com ptose. Observou-se uma diferença significativa no trifólio vertical entre as aberrações de terceira ordem e o astigmatismo secundário nas aberrações de quarta ordem. No entanto, não houve diferença significativa na coma ou aberração esférica entre os olhos com ptose e os outros olhos. Nos olhos com ptose, foi interessante observar a alteração do trifólio e não da coma, como era esperado. No entanto, a coma total e as aberrações tipo coma estão relacionadas à distância reflexo-margem e à distância da acuidade visual corrigida dos olhos com ptose. Sabemos que a orientação vertical do trifólio é significativamente mais frequente nos olhos normais, e demonstrou-se que, conjuntamente, o trifólio vertical e a coma aprimoram mais a acuidade visual do que se atuassem separadamente.
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Figura 1. Ptose com inclinação da cabeça.
Imagens: Agarwal A
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Figura 2. Ptose média.
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Figura 3. Ptose severa.
Observamos que, em comparação com o olho normal, o olho com ptose congênita pode provocar alterações em aberrações de alta ordem. No entanto, diversas aberrações de alta ordem não apresentaram diferenças em relação aos olhos normais. Sabe-se que aberrações de alta ordem não compensadas podem provocar uma visão subnormal. Previamente, cunhamos o termo “aberropia” para estes casos. No entanto, na ptose congênita, a privação de estímulo deve ser excluída porque não houve diferença significativa no trifólio vertical entre os olhos normais e os olhos com ptose, dependendo da severidade da ptose. Isso sugere que a privação de estímulo é um fator primordial para a diferença de visão nestes olhos.
Mesmo que haja uma abertura reduzida da pálpebra na ptose congênita da pálpebra superior, ao contrário do que acontece nos casos de miopia, estes pacientes não estreitam os olhos. Há uma distribuição uniforme da pressão na ptose congênita, diferente da queda mecânica da pálpebra superior, que provoca uma pressão localizada no olho. Além disso, a maioria desses pacientes adota uma posição para a cabeça que também evita a pressão nos olhos. É possível que essas sejam as razões por que os olhos com ptose não mostraram alterações significativas em relação aos outros olhos na maioria das aberrações de alta ordem.
Uma das principais limitações do estudo é o tamanho reduzido da amostra, e é necessário investigar mais com um grupo maior e com um acompanhamento comparativo serial após a correção cirúrgica. As aberrações nos olhos com ptose severa foram registradas após a elevação mecânica da pálpebra, e isso pode alterar a curto prazo as aberrações. Outra limitação é a ampla faixa etária da população do estudo (faixa: de 7 a 35 anos). No entanto, acreditamos que este estudo nos permitirá repensar as variações nas aberrações oculares de alta ordem nos olhos com ptose congênita, um problema comum de pálpebras para a oculoplastia. Uma análise de aberrações de alta ordem com crianças menores de 15 anos com ptose congênita está sendo avaliada atualmente. No entanto, é necessário realizar futuramente um estudo com uma ampla população com ptoses de diversas etiologias.
Referência:
- Amar Agarwal, MS, FRCS, FRCOphth, é diretor de Dr. Agarwal’s Eye Hospital and Eye Research Centre. Agarwal é o autor de vários livros publicados pela SLACK Incorporated, editora da Ocular Surgery News, incluindo Phaco Nightmares: Conquering Cataract Catastrophes, Bimanual Phaco: Mastering the Phakonit/MICS Technique, Dry Eye: A Practical Guide to Ocular Surface Disorders and Stem Cell Surgery e Presbyopia: A Surgical Textbook. Ele pode ser encontrado em 19 Cathedral Road, Chennai 600 086, Índia; fax: +1-91-44-28115871; e-mail: dragarwal@vsnl.com; site: www.dragarwal.com.
Divulgação de informações:
- Agarwal é um consultor pago da Bausch + Lomb.