July 01, 2014
4 min read
Save

Consenso internacional: Danos relacionados à pressão definem o glaucoma na infância

Novo sistema de classificação visa estabelecer uma linguagem compartilhada para colaboração e pesquisa.

Os oftalmologistas têm opiniões diferentes sobre o que, precisamente, constitui o glaucoma infantil, com alguns concluindo que a própria PIO elevada indica a doença.

Embora certamente seja um fator de risco, a PIO elevada sozinha não significa glaucoma infantil, de acordo com o Dr. Allen D. Beck, pessoa indicada para desenvolver o sistema de classificação do glaucoma infantil da Glaucoma Research Network/World Glaucoma Association.

Para obter um maior consenso, a Childhood Glaucoma Research Network, uma colaboração internacional de oftalmologistas pediátricos e especialistas em glaucoma que tratam de crianças com glaucoma, recrutaram Beck e uma equipe de especialistas para produzir um sistema de classificação que simplificaria como o glaucoma infantil é definido e categorizado, com o objetivo de proporcionar uma estrutura para as futuras pesquisas.

Beck e seus colegas desenvolveram uma nova definição com base em seus conhecimentos sobre as similaridades e as diferenças entre o glaucoma em adultos e em crianças.

“Chegamos a uma nova forma de definir o glaucoma [...] como um dano ocular relacionado à pressão”, disse Beck, acrescentando que o dano é “ao olho inteiro, não apenas no nervo óptico, já que o olho da criança pode esticar e existem descobertas na córnea associadas ao surgimento precoce do glaucoma infantil”.

Allen D. Beck

Apesar de seus fortes méritos e aplicabilidade clínica, os sistemas de classificação do glaucoma infantil não obtiveram consenso nacional, quem dirá universal, declarou Beck.

“Parte do problema é que, pelo menos em nível internacional, não falamos da mesma forma”, disse ele.

A classificação

“O objetivo da nova classificação era que fosse simples, lógica e fácil de ser lembrada”, afirmou Maria Papadopoulos, MB BS, FRACO. “Ao invés de enchê-la com todas as causas do glaucoma infantil, deliberadamente tornamos as categorias simples e listamos apenas as causas mais comuns do glaucoma infantil, mas fornecemos orientação para auxiliar na categorização das condições mais raras não listadas”.

Papadopoulos, uma das editoras do World Glaucoma Association Consensus on Childhood Glaucoma, livro no qual o novo sistema de classificação é detalhado, destacou a simplicidade, a clareza e a ampla categorização do sistema.

O sistema de classificação divide o glaucoma infantil em glaucoma infantil primário, englobando o glaucoma congênito primário e o glaucoma juvenil de ângulo aberto; e o glaucoma infantil secundário, englobando o glaucoma associado a anomalias oculares não adquiridas, o glaucoma associado à doença sistêmica ou síndrome não adquirida, o glaucoma associado com condições adquiridas e o glaucoma após a cirurgia de catarata.

O glaucoma após a cirurgia de catarata recebeu sua própria categoria em razão da sua significativa associação com o glaucoma, especialmente em cataratas congênitas.

“As cataratas congênitas são relativamente raras, mas ainda são um dos mecanismos mais comuns pelos quais as crianças desenvolvem o glaucoma”, declarou Beck. “Se não fizermos mais nada senão elevar a conscientização sobre o maior risco de glaucoma após a cirurgia de catarata e que as pessoas precisam ser acompanhadas durante toda a vida, já seria uma grande coisa em termos da identificação e controle do glaucoma infantil”.

Melhor diagnóstico e encaminhamento

Embora o sistema de classificação não reduza os desafios do tratamento, ele melhora o processo de diagnóstico e encaminhamento, afirmou Papadopoulos.

“A nova definição e classificação afeta o diagnóstico e a classificação [do glaucoma infantil] para as necessidades clínicas e de pesquisa”, afirmou ela. “Ela permite que falemos o mesmo idioma, quer dizer, todos chamem a mesma coisa de glaucoma infantil, e nos encoraja a usar internacionalmente o mesmo termo para descrever uma condição, por exemplo, o glaucoma infantil congênito”.

Beck afirmou que a tendência entre os clínicos gerais tem sido agrupar todos os glaucomas infantis na categoria de glaucoma congênito primário, o qual geralmente exige cirurgia logo após a detecção.

“Ela dá [aos médicos] uma forma de enquadrar as doenças e pensar sobre elas em um contexto mais amplo, ao invés de colocar tudo em uma única caixa”, disse ele.

PAGE BREAK

Seguindo em frente

Até agora, segundo Beck, as respostas ao novo sistema de classificação têm sido mistas: algumas instituições o adotaram para treinamento e outros profissionais o utilizam em sua prática clínica, observando sua acessibilidade e praticidade. Mas ele reconhece que nem todos os especialistas em glaucoma infantil têm feito referências positivas ao sistema, alguns descrevem a terminologia do novo sistema de classificação como “desajeitada” e outros questionam a necessidade de um novo sistema de classificação.

“Minha resposta é que a simplicidade do novo sistema é uma grande vantagem e que os novos termos são mais específicos”, declarou Beck.

O sistema de classificação é sucinto o suficiente para permitir as mudanças resultantes de futuros estudos, os quais dependem de saber quem trabalha no campo do glaucoma infantil e de compartilhar uma linguagem comum sobre o glaucoma infantil, afirmou ele. Mas é necessário mais trabalho para disseminá-lo completamente.

“O sistema de classificação é um passo na direção de tentar obter um melhor lugar onde possamos estudar o glaucoma infantil com o objetivo de desenvolver a produção de dados que auxilie tanto aos oftalmologistas como aos pais e guardiões das crianças com a doença”, disse Beck. “Isso pode ser um grande objetivo, mas temos muito mais trabalho a fazer e, em minha opinião, é um grande marco para fazer isso acontecer”. – por Steve Ahern

Divulgação de informações: Beck e Papadopoulos não têm interesses financeiros relevantes a serem divulgados.