Recorrência do ceratocone pós-PK exige atenção e futura investigação
Ela pode ser causada por células doentes que migram do tecido do receptor para o do doador.
A recorrência do ceratocone após o transplante de córnea é um fenômeno raro e relativamente desconhecido, mas que pode ocorrer a curto ou longo prazo, conforme mostrado em dois casos relatados por um especialista em Kuala Lumpur, na Malásia.
“O primeiro caso foi o de um paciente indiano de 19 anos com ceratocone avançado que apresentava inicialmente hidropsia aguda no olho direito. Também havia uma descemetocele na córnea central que ameaçava estourar. O problema no olho esquerdo estava menos avançado, mas a córnea também estava muito fina. Embora houvesse cicatrizes em ambas as córneas, o paciente ainda conseguia enxergar 20/80 com o olho esquerdo”, afirmou a Dra. Jenny P. Deva, em uma entrevista para a Ocular Surgery News.
Inicialmente, o olho direito estava sendo tratado de forma conservadora. A hidropsia regrediu e o edema corneano foi reduzido. A interligação do colágeno corneano (CXL) foi realizada nos dois olhos.
Resultado do primeiro caso
No período pós-cirúrgico, o paciente ainda apresentou visão de conta-dedos no olho direito devido à cicatriz corneana central, mas teve uma melhora de 20/120 com a pupila dilatada. O olho esquerdo alcançou 20/40 com a correção de lentes gás-permeáveis (GP). No entanto, devido à visão deficiente do olho direito, foi realizada uma queratoplastia penetrante e, com isso, o olho recuperou 20/80 da visão sem nenhum recurso visual.
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Jenny P. Deva
“Inesperadamente, 16 meses mais tarde, o paciente voltou a apresentar uma drástica perda de visão no olho operado com a queratoplastia penetrante. Clinicamente, ele teve um edema corneano e a visão foi reduzida a conta-dedos novamente”, disse a Dra. Deva.
“Não houve aumento na pressão intraocular, mas as leituras K estavam altas novamente devido à recorrência de keratocono no olho”, destacou a Dra. Deva. “Tratamos por uma semana de forma conservadora e, então, a CXL foi realizada. O resultado foi uma excelente recuperação visual de cerca de 20/100. Com sorte, após a inclinação da córnea ter estabilizado, poderemos melhorar ainda mais a visão do paciente com lentes GP”.
Segundo caso
O segundo paciente era um homem de 42 anos, da Malásia, que teve ceratocone bilateral. Quinze anos antes, foi realizada uma queratoplastia penetrante em seu olho direito, que era o mais afetado. O olho esquerdo tinha ceratocone moderado e ele manteve uma visão estável corrigida com óculos de 20/60, apesar de ter 6,50 D de astigmatismo.
“Ele foi à nossa clínica há 3 meses, e seu olho direito estava piorando gradativamente. Ele informou que não vinha enxergado bem nos últimos 2 anos e que, se possível, gostaria de uma solução para os dois olhos”, contou a Dra. Deva.
A interligação foi realizada em ambos os olhos. Com as lentes GP, o paciente conseguiu enxergar 20/80 com o olho direito e 20/40 com o esquerdo. Embora o paciente esteja atualmente enfrentando dificuldade para usar a lente de contato no olho direito devido ao fato da córnea estar muito inclinada, é possível que, no prazo de 6 a 12 meses, o efeito da CXL permita uma melhor adaptação às lentes GP. Caso contrário, disse a Dra. Deva, uma LIO fácica será implantada.
“Com base nesses dois casos, sabemos que o ceratocono pode retornar rapidamente após a queratoplastia penetrante e depois de muitos anos”, afirmou a Dra. Deva.
“O mecanismo exato ainda não foi estabelecido, mas é provável que envolva uma interação enxerto-receptor. É provável que as células ‘doentes’ do ceratocone migrem do tecido do receptor para o tecido do doador”, explicou.
Há alguns casos de pacientes com ceratocone que, após a queratoplastia penetrante, desenvolveram um astigmatismo progressivo. De acordo com a Dra. Deva, esse pode ser um sinal da recorrência do ceratocone e deve ser monitorado rigorosamente.
“Talvez, o número de recorrências de ceratocone seja subestimado e continue não diagnosticado”, explicou a doutora. “Isso também representa um dilema para todos os oftalmologistas: não deveríamos ser proativos e realizar a interligação do olho com ceratocone após a PK”?
A Dra. Deva solicitou que seus colegas enviassem informações sobre toda recorrência de astigmatismo elevado que tenha se desenvolvido em um curto período após a PK do ceratocone encontrado. – por Michela Cimberle
Para maiores informações:
- A Dra. Jenny P. Deva é oftalmologista, consultora e cirurgiã refrativa no Tun Hussein Onn National Eye Hospital, Kuala Lumpur, Malaysia; +60 3 55193550 ou +60 3 71881488; email: jmpdeva16@gmail.com.
- Divulgação de informações: a Dra. Deva não tem interesses financeiros relevantes a serem divulgados.