October 01, 2011
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Técnica de LIO colada possibilita multifocalidade em casos complicados

O procedimento melhora a visão de perto e de longe em olhos que exigem uma cirurgia de catarata complicada.

Amar Agarwal, MS, FRCS, FRCOphth
Amar Agarwal

Embora as LIOs monofocais comumente disponíveis ofereçam um ponto claro de foco à distância ou mais perto, só é possível escolher um único ponto focal. As LIOs multifocais possibilitam uma boa visão a várias distâncias. Elas foram desenvolvidas para evitar a necessidade de óculos, pois oferecem dois ou mais pontos focais. Essas LIOs devem ser colocadas na bolsa capsular.

Até pouco tempo atrás, era difícil oferecer multifocalidade para pacientes que precisavam de cirurgias de catarata complicadas e não tinham cápsulas normais. A afacia com cápsula deficiente tem sido uma limitação para obter a multifocalidade. Com o procedimento de LIO multifocal colada, possibilitamos a multifocalidade mesmo em cirurgias de catarata complicadas. Nessa técnica, a implantação da LIO multifocal é feita mesmo em olhos com ruptura capsular posterior grande e afacia com cápsula posterior deficiente.

Figura 1. Coloboma da lente. Observe os retalhos esclerais a 180° de distância um do outro e a cânula e o trocarte sem sutura de calibre 23.
Figura 1. Coloboma da lente. Observe os retalhos esclerais a 180° de distância um do outro e a cânula e o trocarte sem sutura de calibre 23.
Imagens: Agarwal A

Tipos de LIO multifocal

Existem dois tipos de LIOs multifocais: refrativa e difrativa. As LIOs refrativas são usadas em pessoas com catarata e presbiopia. Elas possuem zonas multifocais para potências de perto, à distância e intermediárias.

Figura 2. Lensectomia com vitrectomia.
Figura 2. Lensectomia com vitrectomia.

A ReZoom (Abbott Medical Optics) é uma LIO refrativa. A Array SA40N (AMO) é uma LIO multifocal progressiva dobrável com uma óptica de 6 mm com cinco zonas refrativas concêntricas para potências de perto e à distância. As zonas 1, 3 e 5 são dominantes na visão de longe para formar a potência de base e as zonas 2 e 4 são dominantes na visão de perto com 3,5 D adicionados. A Tecnis ZM001 (AMO) é uma LIO difrativa dobrável com óptica de 6 mm. Ela combina tecnologia óptica difrativa com uma superfície anterior alongada modificada asférica, desenvolvida para reduzir aberrações esféricas.

Técnica de LIO multifocal colada

Dois retalhos esclerais de espessura parcial com cerca de 2,5 mm x 3 mm são criados diagonalmente, a uma distância exata de 180°. São afixadas uma cânula de infusão (podem ser usados uma cânula e um trocarte sem sutura de calibre 23) ou um mantenedor da câmara anterior (Figura 1). A vitrectomia anterior é realizada em olhos com tração vítrea (Figura 2). Duas esclerotomias retas com uma agulha de calibre 20 ou 22 são feitas sob os retalhos esclerais existentes a cerca de 1 mm do limbo.

Figura 3. O dispositivo háptico da LIO é externalizado com um fórceps MST calibre 23 sob os retalhos esclerais. Os dois dispositivos hápticos são externalizados sob os retalhos.
Figura 3. O dispositivo háptico da LIO é externalizado com um fórceps MST calibre 23 sob os retalhos esclerais. Os dois dispositivos hápticos são externalizados sob os retalhos.

A LIO refrativa ou difrativa multifocal é introduzida pela incisão límbica com o fórceps McPherson ou com um injetor. O fórceps de microincisão de calibre 25 ou 23 do tipo pinça (MicroSurgical Technology) é passado por uma das esclerotomias (Figura 3) para manter a ponta do dispositivo háptico. O dispositivo háptico é seguidamente externalizado sob o retalho escleral. Um túnel escleral é realizado com uma agulha de calibre 26 no ponto de externalização do dispositivo háptico, que é inserido no túnel escleral intralamelar.

Logo depois, os retalhos esclerais são fechados com cola de fibrina (Tisseel, Baxter) (Figuras 4 e 5). Em seguida, a cânula de infusão ou o mantenedor da câmara anterior são removidos. A conjuntiva também é unida com cola de fibrina.

Resultados cirúrgicos e visuais

Fizemos cirurgias em cinco olhos: três com LIOs refrativas e dois com LIOs difrativas. As indicações eram ruptura capsular posterior grande intraoperativa em três olhos e afacia em dois olhos. A melhor acuidade visual corrigida pré-cirúrgica média era 0,73 D ± 0,28 D e a acuidade visual não corrigida pós-cirúrgica média foi 0,76 D ± 0,22 D. A BCVA (melhor acuidade visual corrigida) pós-cirúrgica média foi 0,86 D. A PIO pós-cirúrgica média, conforme medição com um tonômetro sem contato, foi 12,4 ± 1,6 mm Hg.

Figura 4. Os dispositivos hápticos são inseridos no túnel escleral intralamelar e depois se aplica cola de fibrina para unir os retalhos esclerais.
Figura 4. Os dispositivos hápticos são inseridos no túnel escleral intralamelar e depois se aplica cola de fibrina para unir os retalhos esclerais.

Respostas subjetivas a questionários sobre ofuscação, sensibilidade de contraste e outros distúrbios ópticos foram obtidas dos pacientes. Não houve alteração significativa na sensibilidade de contraste. Após um ano de acompanhamento, se observou uma boa satisfação dos pacientes.

Centração e multifocalidade

É sabido que uma boa centração é essencial em várias LIOs ópticas para oferecer a melhor visão corrigida sem distúrbios ópticos. Com uma lâmpada de fenda, se fizeram imagens digitais em série do olho com dilatação máxima de pupila para avaliar a centração da LIO. Foi feito um processamento de imagem com o Matlab versão 7.1 (MathWorks) para quantificar a descentração. Em cada consulta, foi feita uma biomicroscopia ultrassônica para obter a posição ou a inclinação da LIO. A análise de centração de LIO pós-cirúrgica com biomicroscopia ultrassônica mostrou uma boa posição da LIO.

Figura 5. LIO colada multifocal inserida.
Figura 5. LIO colada multifocal inserida.

Conclusão

As LIOs multifocais têm sido muito usadas em aplicações clínicas nesta década. O aumento das expectativas dos pacientes e os avanços tecnológicos foram a motivação para técnicas cirúrgicas inovadoras. Portanto, este método de fornecer visão multifocal por meio do procedimento de LIO colada é uma etapa avançada para corrigir a visão de perto e de longe em olhos com cápsulas deficientes e em cirurgias de catarata complicadas.

  • O Dr. Amar Agarwal, MS, FRCS, FRCOphth é diretor do Dr. Agarwal’s Eye Hospital e do Eye Research Centre. O Prof. Agarwal é autor de vários livros publicados pela SLACK Incorporated, editora da Ocular Surgery News, incluindo Phaco Nightmares: Conquering Cataract Catastrophes, Bimanual Phaco: Mastering the Phakonit/MICS Technique, Dry Eye: A Practical Guide to Ocular Surface Disorders and Stem Cell Surgery e Presbyopia: A Surgical Textbook. Ele pode ser encontrado em 19 Cathedral Road, Chennai 600 086, India; fax: 91-44-28115871; email: dragarwal@vsnl.com; site: www.dragarwal.com.