April 01, 2006
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Avanços em drogas e diagnóstico ajuda no tratamento de ceratites fúngicas

Para se tratar ceratites fúngicas, injeções no segmento anterior podem ser a via de escolha em detrimento a uso tópico de antifúngicos ou cirurgia, revela doutora.

No tratamento de ceratites fúngicas, é importante que se saiba quando optar por cirurgia e fazê-la sem espalhar a infecção; de outra forma, as úlceras corneanas e endoftalmites tornam-se mais frequentes, com chances reduzidas de um tratamento efetivo e de sucesso, de acordo com Dra. Denise de Freitas.

Fatores predisponentes

Dra. de Freitas observou que os fatores predisponentes e agentes etiológicos variam de centro a centro. Ela citou dois estudos que ilustram estas diferenças.

Em um estudo com 24 pacientes com ceratite fúngica do Wills Eye Hospital, na Filadélfia, a doença da superfície ocular era o fator predisponente em quase metade (47,1%) dos casos, revelou Dra. de Freitas. O uso de lentes de contato era o fator predisponente em 29,2%, uso de esteróides tópicos em 16,7% e trauma ocular em 8,3%. Nesta série, os agentes etiológicos eram Candida albicans em 45,8% dos casos e Fusarium species em 25% dos casos, revelou.

Em contraste, um estudo similar de 29 casos de ceratite fúngica no Singapore National Eye Center, o trauma ocular era o fator predisponente em 50% doa casos, uso de esteróides tópicos em 25% e uso de lentes de contato em 6,8%, revelou. Este estudo concluiu que 52% dos casos de ceratites fúngicas eram causados por Fusarium species.

Fatores predisponentes para ceratites fúngicas incluem trauma, especialmete quendo envolvem vegetais ou matéria orgânica; uso de lentes de contato, cosméticas ou terapêuticas; alterações sistêmicas e uso de esteróides tópicos.

O uso de antibióticos tópicos pode ser também um fator predisponente para a ceratite fúngica revela Dra. de Freitas, embora a razão ainda não esteja completamente esclarecida. Causas possíveis incluem alterações na flora conjuntival com o uso de antibióticos ou aumento da virulencia dos fungos em resposta ao agente tópico.

Ceratites pós cirurgia refrativa têm sido causadas por micobactérias assim como por Candida, Fusarium, Aspergillus e Curvularia, observou Dra. de Freitas.

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Destruição das camadas superficiais da córnea pode ser vista nas ceratites fúngicas. A úlcera está associada com lesões satélite.

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Ceratite fúngica com hipópio. Diagnóstico Histopatologico é fácil mas a classificação correta não é.

Imagens: The Atlas of Ophthalmology Photo CD, SLACK Incorporated

O que procurar

Os achados clínicos nas ceratites por fungos filamentosos incluem margens da lesão irregulares, textura rugosa e seca, lesões satélite, reação de câmara anterior, hipópio, placa endotelial, infiltrado lesional em forma de anel e dobras na membrana de Descemet, observou ela.

Infecções por leveduras lembram ceratites bacterianas, afirmou. Elas frequentemente apresentam defeito epitelial sobrejacente, infiltrados discretos e uma taxa de progressão mais lenta.

Uma nova ferramenta relativamente nova para o diagnóstico de ceratites fúngicas é a microscopia confocal, observou. Dra. de Freitas notou ainda que o comitê de tecnologia oftálmica da Academia Americana de Oftalmologia afirmou que o uso da microscopia confocal pode tornar mais fácil o diagnóstico de ceratites infecciosas.

Dra. de Freitas revelou que um estudo recente concluiu que a reação de cadeia da polimerase (PCR) é também uma ferramenta efetiva no diagnóstico que pode ser ainda mais sensível que a cultura, embora a especificidade do exame seja problemática.

Esfregaços, culturas e biópsias permanecem como métodos mais estandartizados no diagnóstico laboratorial, conclui ela.

Terapia clínica

Uma boa quantidade de drogas mostram bons resultados, revelou Dra. de Freitas.

“Ainda estamos usando tratamentos convencionais pois as novas drogas antifúngicas estão ainda sob investigação”, revelou Dra. de Freitas. “Ainda assim novas drogas como voriconazole, caspofugin e amfotericin B liposomal mostram resultados promissores para o tratamento de ceratites fúngicas e têm sido utilizadas nos casos mais difícei, nos quais a resposta clínica não é satisfatória”.

Corticosteroides podem piorar o curso clínico das infecções micóticas e podem causar rebote inflamatório, afirmou Dra. de Freitas. Nestes casos os corticosteróides devem ser retirados mais abruptamente. Esta inflamação pode ser confundida com piora da infecção mictica.

Terapia cirúrgica

O debridamento cirúrgico de epitélio ou a ceratectomia lamelar superficial podem ser de grande valia na remoção de fungos e material necrótico e, ambos os procedimentos permitem uma melhor penetração de drogas na córnea infecctada, afirmou Dra. de Freitas.

“O tratamento cirúrgico para ceratites graves é importante quando mais avançados. A injeção de anfotericina B na câmara anterior pode ser útil nestes casos. Todos os antifúngicos apresentam um peso molecular alto o que torna a penetração da droga muito difícil no epitélio corneano saudável”, afirmou Dra. de Freitas via e-mail. “Além disso, alguns fungos podem penetrar as barreiras corneanas e alcançar a câmara anterior. A administração da droga direto na câmara anterior seria muito mais eficaz que somente administrar colírios”.

Para Sua Informação:
  • Dra. Denise de Freitas pode ser contatada na: Rua Botucatu, 820 Cep 04023-062 Brasil; 55-11-5085-2015; fax: 55-11-5549-6824; dfreitas@pobox.com.
Referências:
  • Kaufman SC, Musch DC, et al. Confocal microscopy: A report by the American Academy of Ophthalmology. Ophthalmology. 2004;111(2):396-406.
  • Daniele Cruz, redatora da equipe de OSN, cobre todos os aspectos da oftalmologia.