February 01, 2005
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Custo afasta muitos pacientes do tratamento com Visudyne

Terapia fotodinâmica é uma bemvinda novidade na gama de tratamentos disponíveis para DMRI, mas o custo é uma barreira para muitos pacientes.

A emergência da terapia fotodinâmica (PDT) nos mercados da América Latina traz a muitos pacientes com DMRI a chance de um tratamento eficaz, mas o custo do tratamento ainda o deixa fora do alcançe para muitos.

A discrepância gap entre os que necessitam do tratamento e aqueles que podem custeá-lo torna-se um problema na américa latina, revelou um médico.

“Obviamente cada população apresenta suas características próprias e, por conta da distribuição étnica, algumas das porcentagens podem variar, mas ainda é um grande problema”, revelou Dr. Evandro Lucena, do Rio de Janeiro.

Dr. Lucena acreditou que um problema de saúde pública está em crescimento. Sua preocupação é se os pacientes terão acesso aos tratamentos necessários para parar a progressão da DMRI em direção a cegueira. Na América Latina, os pacientes frequentemente não têm planos de saúde privados e a muitos orgãos de saúde governamentais não oferecem cobertura a este relativamente novo tratamento.

Alguns médicos entrevistados neste artigo revelam que, para alguns casos de pacientes impossibilitados de custear o PDT, é oferecida fotocoagulação tradicional ou outros tratamentos mais recentes mas ainda em fase experimental. Apesar de algumas destas opções serem de grande valia, não são o ideal e não são apropriadas para todos os pacientes.

Fora do alcançe no Brasil

No Brasil, o custo tratamnto com Visudyne (verteporfirina injetável, Novartis Ophthalmics) é de US$2.500 por PDT, afirmou Dr. Lucena. Como múltiplas sessões são tipicamente necessárias, uma paciente com DMRI poderá ter que desembolsar US$10.000 por um tratamento anual completo, revela. Isso coloca o tratamento fora do alcançe da maior parte da população.

Embora a agência regulatória brasileira tenha aprovado o Visudyne para uso clínico e várias organizções médicas o tenham endossado, a maioria dos planos de saúde não o pagam, segundo Dr. Lucena.

A Associação Médica Brasileira, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia e a Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo reconhecem a eficácia do tratamento com Visudyne para algumas formas de DMRI. A droga foi ainda aprovada para uso clínico pela ANVISA logo após a aprovação pelo FDA nos Estados Unidos, afirmou.

Mas somente sua aprovação clínica não significa que as companhias de seguro e planos de saúde reembolsem pelo seu uso, completou.

“A maioria dos planos de saúde privados não aceitam propostas de reembolso para o PDT por falta de codificação do procedimento, o que significa que eles não o pagam. No sistema público de saúde o problema encontra-se em estudo pelo Ministério da Saúde”, revelou Dr. Lucena à Ocular Surgery News.

Os pacientes que necessitam precisam pagar, o que deixa grande parte da população sem acesso ao tratamento. Dr. Lucena estima que cerca de 75% da população brasileira não têm seguro ou plano de saúde privados e estão, certamente, impossibilitados de custear o PDT, baseado em informações do censo brasileiro de 2000.

“A maior parte da população brasileira não têm acesso ao sistema de saúde privado incluindo-se aí seguros e planos de saúde e não têm como custear um PDT de forma privada”, revelou.

Pouco pode ser feito para pacientes com DMRI sem o Visudyne, afirma. Fotocoagulação é indicada para lesões extrafoveais e juxtafoveais mas o PDT com Visudyne é o único tratamento aprovado para neovascularização subrretiniana subfoveal, completou.

Alternativa na Venezuela

Visudyne é similarmente caro para pacientes na Venezuela, afirmou Dr. J. Fernando Arevalo. Ele revelou que a maioria dos pacientes que são submetidos a PDT têm seguros de saúde que cobrem o Visudyne. Alguns poucos podem custear o tratamento de seus próprios bolsos. Aqueles que não se enquadram em nenhuma das duas categorias podem ter o tratamento parcialmente custeado pelo sistema de seguro social da Venezuela mas isso ainda deixa muitos pacientes sem recursos capazes de custear o tratamento, afirmou.

Ele estima que 70% da população venezuelana não têm seguro de saúde e nenhuma forma de pagar as taxas adicionais que não são cobertas pelo seguro social federal.

Dr. Arevalo revelou ainda que desde a chegada do Visudyne no mercado venezuelano mais e mais pacientes têm sido referidos a ele para tratamento de DMRI. Com a disponibilidade de tratamento, a população que precisa de tratamento aumenta, afirmou.

“Anos antes do Visudyne, nós achávamos que a DMRI era infrequente por causa do nosso aspecto pigmentado na América Latina e após o tratamento chegar nós vemos mais pacientes com DMRI”, Dr. Arevalo afirmou. “A razão para isto pode ser que os oftalmologistas tenham sido alertados pelo marketing envolvido que agora há um tratamento para membranas neovasculares subrretinianas por DMRI e começaram a referir mais pacientes para tratamento”, disse.

Para pacientes que não podem custear o tratamento com Visudyne, Dr. Arevalo considera usar a fotocoagulação tradicional em candidatos apropriados. Ele também emprega um tratamento alternativo que ele classifica como experimental mas comparável ao Visudyne.

Ele oferece a estes pacientes a fototrombose mediada pela indocianina verde (i-MP) com triamcinolona intravítrea, uma combinação que ele está investigando. O procedimento emprega um laser de diodo térmico de 810 nm para ativar a indocianina verde injetada por via intravenosa.

(Para mais informações em relação a i-MP, veja o artigo “Laser-dye hibrido tem potencial para várias formas de NVC”, Ocular Surgery News Latin America Edition março/abril de 2004, página 8.)

“Nós tratamos os pacientes com menos recursos com i-MP, não porque é menos efetivo, mas porque é um tratamento que nos tem mostrado bons resultados”, explicou. “Porque nós utilizamos um meio de contraste mais barato, é ideal para pacientes com menos recursos. Além do mais, eu acho que o tratamento é mais efetivo com triamcinolona intravítrea”.

Dr. Arevalo afirmou ainda que outros tratamentos para DMRI estão sendo desenvolvidos mas ele observa que os pacientes poderão enfrentar as mesmas barreiras com qualquer futuro tratamento farmacológico.

“Existe muita conversa acerca das drogas antiangiogênicas mas na América Latina o problema do custo será o mesmo”, disse. “Nós deveremos continuar a usar estas terapias alternativas (como i-MP) mais na América Latina que nos Estados Unidos por causa dos custos das terapias mais novas e caras”, completou.

Problema menor no México

No México, de acordo com um oftalmologista, o perfil étnico da população tende a fazer com que a DMRI seja um problema de saúde pública menos grave que em outros países.

“Embora não haja uma estimativa exata, a prevalência de DMRI não é alta como em outros países como nos Estados Unidos”, revelou Dr. David Lozano Rechy. Ele credita a baixa prevalência ao perfil étnico populacional, “há muito se observa que pessoas com a pele e iris mais pigmentadas são menos sucetíveis a DMRI”, afirmou.

Mas para aqueles que apresentam DMRI, o acesso ao tratamento pode ser um desafio no México, disse Dr. Lozano. Ele estima que uma sessão de PDT no México custe US$1.700, não incluídos os honorários médicos.

“Temos que lever em conta que há uma grande percentagem da população (aproximadamente 40%) que está fora do sistema de seguro social do México”, afirmou Dr. Lozano.

Embora ele hesite em falar que os custos do tratamento com Visudyne seriam um problema de saúde pública, afirma que é ainda é desconhecido o número de pacientes que necessitariam de tratamento mas não podem custeá-lo.

Ele acreditou que para a maior parte dos pacientes que são submetidos a tratamento com Visudyne pagam de forma particular ou o recebem sem custos em alguns hospitais da rede de seguro social do México, o Instituto Mexicano de Seguro Social.

“Todos os trabalhadores têm o direito de participar deste programa governamental”, revelou Dr. Lozano.

Revelou ainda ter ouvido que pacientes têm tido problemas para receber o tratamento.

Para os pacientes que apresentam DMRI e não podem custear o tratamento com Visudyne, as opções são limitadas, conclui.

“Para estes pacientes que apresentam DMRI com membranas neovasculares subrretinianas, eles podem não se submeter ao tratamento e aguardar que a doença siga seu curso, ou se têm membranas extrafoveais podem receber fotocoagulação a laser. Muitas vezes, os pacientes com membranas clássicas decidem continuar com a fotocoagulação ao invés do PDT”, revelou.

Ele disse que a fotocoagulação pode ser efetiva parando a progressão de membranas subfoveais clássicas secundárias a DMRI, mas o problema é a baixa visual imediata. A fotocoagulação é especialmente reservada para pacientes que não escolham ou não possam arcar com os custos do Visudyne.

Para sua informação:
  • Dr. Evandro Lucena pode ser contatado em seu consultório privado na Rua Visconde Silva 177/406, Rio de Janeiro RJ, 22470-090 Brasil; tel./fax: +55-21-2512-7173 ou +55-21-2539-2847; e-mail: elucena@yahoo.com.
  • Dr. J. Fernando Arevalo pode ser contatado na Clinica Oftalmologica Centro Caracas, Centro Caracas PH-1, Av. Panteon, San Bernardina, Caracas 1010, Venezuela; +58-212-576-8687; fax; +58-212-576-8815; e-mail: areval1@telcel.net.ve.
  • Dr. David Lozano Rechy pode ser contatado em Chimalpopoca 14, Col Centro, DF Mexico; +52-55-52-71-9316; fax:+52-55-52-92-2969; e-mail: davidretina@hotmail.com.
  • Novartis, distribuidora del Visudyne, pode ser contatado en 11695 Johns Creek Pkwy, Duluth, GA 30097 E.U.A.; +1-770-905-1000; fax: +1-770-905-1883; www.novartisophthalmics.com.
  • Jeanne Michelle Gonzalez é redatora da equipe de OSN especializada em aspectos administrativos de prática clínica, regulamentação e tópicos legislativos além de cirurgia de catarata e refrativa.