Simpósio mexicano exalta avanços e identifica desafios futuros
O Congresso Mexicano de Oftalmologia promoveu um fórum para troca de experiências que contou com oftalmologistas de todas as especialidades.
![]() Dr. Enrique Graue Weichers, que figura como um dos editores medicos associados da Ocular Surgery News Latin America Edition, observou o quão distante a oftalmologia mexicana caminhou nas últimas décadas. Imagem: Stiglich JM |
VERACRUZ, México — O acesso a novas tecnologias e a criação de um currículo nacional mais estandartizado figuraram entre as maiores prioridades para aqueles que compareceram ao encontro bienal da Sociedade Mexicana de Oftalmologia.
Com o comparecimento de aproximadamente 2.000 congressistas, o encontro foi realizado entre os dias 7 e 11 de agosto. E de acordo com o presidente do encontro, Dr. Jorge Nicolas Chantiri Perez, o alto comparecimento “quebrou o recorde” de encontros passados.
Durante a cerimônia inaugural, os palestrantes exaltaram o importante papel desempenhado pela oftalmologia na comunidade científica, tanto no México como no resto do mundo.
“A oftalmologia é mais que uma ciência. É a ciência que dá sentido à vida”, afirmou Dr. Raúl Suárez Sánchez, presidente da SMO, nos seus comentários iniciais.
Dr. Sanchez foi acompanhado pelo Dr. Enrique Graue Weichers, o novo presidente da organização-irmã da SMO, o Conselho Mexicano de Oftalmologia (CMO). Dr. Graue, que figura como um dos editores medicos associados da Ocular Surgery News Latin America Edition, observou o quão longe e a oftalmologia mexicana caminhou nas últimas décadas, em parte pela imposição de rigorosos padrões de qualidade de ensino continuado e certificação. Dr. Graue nota ainda que o futuro apresenta muitos desafios especialmente a formação de um currículo unificado para estudantes de oftalmologia no país.
Dr. Graue foi oficialmente nomeado presidente do CMO durante o evento. Ele também assume a presidência da Associação Pan-Americana de Oftalmologia (PAAO) no próximo ano.
A seguir estão alguns dos pontos altos do encontro.
O aumento da incisão corneana não aumenta o astigmatismo
Um pequeno aumento do tamanho da incisão em cornea clara na cirurgia de catarata não induz astigmatismo adicional, de acordo com um dos cirurgiões palestrantes.
Dra. Karina Ramos Espinoza apresentou resultados de um estudo prospectivo observacional. A indução cirúrgica de astigmatismo pode ser um importante determinante na recuperação visual do paciente após a cirurgia de catarata revelou. Dra. Ramos Espinoza e colaboradores, de Guadalajara, México, demonstraramque uma alteração do tamanho da incisão não leva a aumento na indução de astigmatismo pós-operatório.
O estudo incluiu 88 olhos de 72 pacientes que foram submetidos a facoemulsificação da catarata com incisões em córnea clara maiores de 3 mm. Em todos os paientes a incisão foi alargada para 3,75 mm para o implanted a lente intra-ocular (LIO). Trinta e oito olhos (43%) receberam lentes acrílicas hidrofóbicas e 50 olhos (57%) receberam lentes de hidrogel.
As medidas ceratométricas foram realizadas antes da cirurgia e após 1 e 6 semanas do pós-operatório. A acuidade visual também foi medida com a escala de Snellen.
No pós-operatório, 78% dos olhos apresentavam acuidade visual de 20/30 ou melhor. Acuidade pior nos olhos restantes foi atribuída a presença de patologia macular associada, revelou Dra. Ramos Espinoza.
Nos pacientes submetidos a cirurgia com implante de LIO acrílica, o astigmatismo médio era de 0,34 D medidos após 1 semana de pós-operatório, que decresceu para 0,23 D após 6 semanas. Pacientes que receberam LIOs de hidrogel apresentavam astigmatismo médio de 0,31 D após 1 semana de cirurgia e 0,13 D em 6 semanas.
“Nós concluímos que, com pequenas incisões em cornea clara que são ampliadas para 3,75 mm, induzimos astigmismo neutro. Atualmente, com os injetores utilizados, as incisões podem ser ainda menores, mas esta pode ser uma opção caso o uso de fórceps seja necessário”, afirmou Dra. Espinoza Ramos.
A detecção precoce do retinoblastoma apresenta implicações econômicas
A detecção precoce do retinoblastoma é importante, não somente para salvar vidas e visão mas também em termos econômicos, para redução dos gastos do já combalido sistema de saúde mexicano, revelou um dos palestrantes.
“A crise econômica pela qual estamos passando está afetando o sistema de saúde e os hospitais”, revelou Dr. Marco Antonio Ramírez Ortíz.
Dr. Ramírez Ortíz e colaboradores do Hospital Infantil do México — que assiste aproximadamente 25% a 33% dos casos de retinoblastoma do país — avaliaram o custo médio de tratamento dos pacientes com retinoblastoma.
Sua premissa é que os custos podem ser significativamente maiores se o tumor não for detectado até os estágios mais avançados.
Os pesquisadores observaram 31 pacientes tratados no hospital entre janeiro de 1997 e fim de 2002. Eles incluíram somente pacientes não realizaram todo ou partes do tratamento em outros locais, de forma a ter uma contabilidade completa de cada caso. Após calcular todos os gastos, eles compararam seus números com informações obtidas de três companhias de seguro para obter uma média.
Determinaram então que o tratamento do retinoblastoma intraocular custa uma média aproximada de US$20.000,00 por paciente. O custo quase dobra em casos de tumores extraoculares, com uma média de US$34.000,00.
“Tratar o retinoblastoma representa não somente o gasto econômico em si mas o custo que incorre na localidade do paciente e os custos hospitalares inclusos que não são pagos”, revelou Dr. Ramírez Ortíz.
Ele também falou da dos custos indiretos do tratamento que sãomuito importantes e difíceis de calcular.
“Incluem uma menor oferta de oportunidades para os pais e uma menor qualidade de vida”, completou.
Um grupo de pesquisadores mexicanos recentemente solicitou um esforço nacional para o desenvolvimento de programas de detecção precoce e protocolos de tratamento para o retinoblastoma.
Estudo sugere que colírios lubrificantes em forma de gel podem afetar resultados de cirurgias refrativas
A qualidade do filme lacrimal deve ser levada em consideração quando se planeja uma cirurgia refrativa, revela uma cirurgiã.
Dra. Maria Gomez Valcarcel aresentou resultados que demonstram o efeito dos colírios lubrificantes em forma de gel nas aberrações óticas após cirurgias refrativas. Dra. Valcarcel e colaboradores observaram que alterações no filme lacrimal provocadas pelos géis lubrificantes podem induzir aberrações e interferir no resultado final da cirurgia.
O estudo incluiu 30 olhos de pacientes com menos de 40 anos de idade que foram submetidos a aberrometria basal em ambos os olhos. As medidas foram tomadas 1, 5, 15 e 30 minutos após a aplicação ocular do gel lubrificante.
O estudo mostrou que após o uso do gel houve um aumento clinicamente significativo das aberrações. A única exceção foi o defocus que observaram ter aumentado. Os resultados não foram estatisticamente significativos, afirmou Dra. Valcarcel.
Ela notou ainda que o uso dos géis não apresentam impacto significativo nas aberrações de baixa ordem.
Uma das áreas onde foi demonstrado um “importante declínio” após a aplicação de gel é o “match” (porcentagem de ablação esferocilíndrica que pode ser programada para ser corrigida).
“Nos cálculos prévios à cirurgia refrativa, deve-se considerar o filme lacrimal de forma a validar o match (porcentagem) que está sendo medido”, conclui.
Relação entre diabetes e glaucoma continua indefinida
A possível relação existente entre glaucoma e diabetes continua a ser um dos mistérios ainda não resolvidos da oftalmologia, de acordo com um dos participantes do encontro.
De acordo com Dr. Juan Ignacio Babayán, um especialista em glaucoma, as importantes pesquisas que têm sido conduzidas sobre este tópico ainda vão estabelecer a natureza da relação existente entre as duas patologias. Embora alguns estudos tentem estabelecer uma relação entre elas, Dr. Babayán afirmou que grande parte das teorias são contraditórias neste sentido.
Fatores como genética e bioquímicos complicam ainda mais a natureza destas patologias.
“As mutações genéticas envolvidas no glaucoma não são sempre encontradas no diabetes”, revelou. “Ao menos do ponto de vista genético, uma relação clara não está estabelecida”.
As interrelações existentes entre o diabetes e o glaucoma podem ainda complicar o manejo farmacológico, afirmou.
“Em alguns casos concluimos que o diabetes pode complicar o controle e o tratamento do glaucoma. Por exemplo, é sabido que a pilocarpina deve ser evitada em pacientes diabéticos. Beta bloqueadores podem ser contra-indicados mas nãso em todos os casos”, revelou.