March 01, 2008
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No futuro, a neuroproteção pode ser um tratamento alternativo para o glaucoma

Algumas pesquisas estão concentradas no tratamento neuroptrotetor e nas stem cells.

Destaque em Cirurgia de Glaucoma

De acordo com alguns médicos, a prevenção da morte de células ganglionares da retina com terapias neuroprotetoras, que se focam em outros fatores que não a PIO, pode ser o futuro tratamento para o glaucoma.

Enquanto drogas específicas estão em estudos para o tratamento do glaucoma de uma perspectiva neuroprotetora, outras possibilidades terapêuticas estão em estágios menos avançados, incluindo pesquisas com outras drogas e células stem, segundo o Dr. S. Fabián Lerner.

Dr. Robert N. Weinreb disse que os clínicos estão avaliando novos caminhos para bloquear lesões, não somente do nervo óptico, mas também de sua via visual, tanto do glaucoma em estágio inicial, como avançado, ao retardar a morte das células ganglionares da retina.

No Simpósio Internacional de Avanços em Glaucoma, realizado na Argentina, o qual Dr. Lerner conduziu, Dr. Weinreb disse que a terapia convencional para o glaucoma focaliza-se somente na redução da PIO. Todavia, apenas reduzir a PIO, não previne posteriores perdas do campo visual em todos os pacientes, devido a outros fatores estarem associados, um problema que a neuroproteção tenta resolver, afirmou.

“O glaucoma é hoje reconhecido como uma neurodegeneração progressiva, e não uma condição apenas relacionada à PIO. Também reconhecemos que não afeta somente o olho, mas todo o trajeto da via óptica central, incluindo o tronco cerebral e o cérebro”, Dr. Weinreb declarou. “Diversos fatores inter-dependentes contribuem individual ou coletivamente para a lesão primária, que é seguida por uma cascata de eventos”.

Drogas neuroprotetoras

Dr. Weinreb disse que algumas substâncias para tratamento do glaucoma já apresentaram efeitos neuroprotetores em modelos experimentais, mas as drogas atualmente prescritas tratam apenas a PIO. Ele afirmou que o tratamento neuroprotetor focaliza-se em evitar que as células ganglionares da retina morram, fato ainda não demonstrado pelas drogas atualmente disponíveis.

Dr. Robert N. Weinreb
Robert N. Weinreb

Porque alguns pacientes glaucomatosos não apresentam apenas um fator de risco, todo e qualquer fator deverá ser resolvido de forma eficaz, aumentando a sobrevivência das células ganglionares, ele afirmou. Fatores que possam provocar a morte destas células incluem: privação de fatores neurotróficos de crescimento e a presença de stress oxidativo, óxido nítrico e glutamatos.

Em pesquisas com animais, o fator que melhor alvejou e mostrou maior modificação em modelos com primatas, foi o glutamato, revelou Dr. Wienreb.

“Quando presente, aumenta o influxo de cálcio para as células, desencadeando a apoptose celular, que por sua vez leva à lesão e morte celular”, ele disse.

Memantina, uma droga que está no mercado para tratamento da doença de Alzheimer, tem sido investigada como tratamento em potencial também para glaucoma, disse ele.

Memantina alveja o sistema glutamatérgico, protegendo os neurônios de encolher-se no glaucoma em primatas. Nos macacos, a substância evita a perda de células ganglionares da retina, de fibras do nervo ótico, de neurônios do núcleo geniculado lateral e de neurônios do córtex visual. Resultados de um estudo clínico recente demonstraram que a memantina é útil no tratamento do glaucoma do ser humano, disse Dr. Weinreb.

Pesquisas com células stem

Em um curso de pós-graduação sobre tratamento do glaucoma, Dr. Lerner disse que as stem cells podem aumentar a neuroproteção no glaucoma. Em entrevista por e-mail para a OSN, ele disse que tais células devem promover uma nova chance de restauração da visão em pacientes que a perderam devido ao glaucoma.

Dr. S. Fabián Lerner S. Fabián Lerner

A pesquisa com stem cells ainda está em seus estágios iniciais, conforme os pesquisadores da América Latina, e outros países como Singapura, China, Suécia e Reino Unido estão começando a receberem fundos e patrocínio, disse.

“As stem cells podem ser adquiridas de adultos ou de embriões. O uso de stem cells de embriões é discutível e temido”, Dr. Lerner afirmou. “Este fato tem efeito direto nos investimentos para pesquisa, pelo menos nos E.U.A. A pesquisa sobre o uso de stem cells para tratamento do glaucoma também sofre interferência destes fatores”.

Em 2006, o Presidente George W. Bush vetou um ato legislativo para estender pesquisas com stem cells embrionárias. Dr. Lerner citou um artigo publicado pela The New England Journal of Medicine, do Dr. Robert S. Schwartz que realçou o debate sobre stem cells nos Estados Unidos. Dr. Schwartz disse que o veto, mais o debate ético com relação ao uso de stem cells embrionárias, tem limitado efetivamente a pesquisa nos Estados Unidos.

Todavia, em países em que a pesquisa tem evoluído, as stem cells parecem ser promissoras, por numerosas razões, Dr. Lerner revelou.

Embora muito desta pesquisa esteja focalizada no sistema nervoso central, ele explicou que o sistema visual é um “sítio privilegiado para pesquisa do uso em potencial das de stem cells e na possibilidade da regeneração neural em mamíferos”.

Dr. Lerner disse que as pesquisas com stem cells devem prosseguir, porque os médicos têm um conhecimento adequado da anatomia retiniana e suas conexões. Ainda, existem métodos sofisticados de diagnóstico funcional e estrutural, que podem detectar e avaliar a progressão da doença. Ele também disse ser fácil quantificar a regeneração, a plasticidade e conectividade dos axônios das células ganglionares da retina devido a estrutura do sistema comparadas às outras áreas do sistema nervosos central, e acessos intra-vítreos estão disponíveis para as células ganglionares da retina e disco óptico.

Citando Levin e colaboradores, ele resumiu potenciais tratamentos para glaucoma utilizando as stem cells, em quatro áreas diferentes: a rede trabecular, células ganglionares retinianas, nervo ótico e corpo geniculado lateral.

O uso de stem cells na malha trabecular pode não atuar na recuperação visual, mas pode reduzir a PIO, reparando ou substituindo as células da rede trabecular. Dr. Lerner disse que as pesquisas mostram que certas células em macacos parecem atuar como stem cells e poderiam fenotipicamente tornar-se semelhantes às células do trabeculado, se próximas da rede trabecular.

“Estas stem cells podem ser de origem adulta ou embrionária”, ele disse. “Esta última, porém, é potencialmente mais acessível, devendo apresentar uma proliferação ilimitada, e possível bloqueio da rede trabecular, piorando assim o quadro. É necessário sabermos o papel exato dos fatores estimulantes, inibitórios e de diferenciação nestas células”.

As stem cells possivelmente podem substituir as células ganglionares, mas tal tratamento tem seus riscos, afirmou Dr. Lerner. As stem cells poderão ser colocadas nos local certo, e um ajuste cortical poderá ser necessário. Outros prováveis problemas incluem o prolongamento axonial para alcançar o corpo geniculado lateral, a formação de sinapses e questões imunológicas, ele salientou.

O uso das stem cells para reparar a lesão do nervo ótico parece ser a opção mais factível, disse Dr. Lerner. Ele afirmou ser possível repovoar o nervo ótico com células tronco, reconstruindo a matriz estrutural. As stem cells também podem auxiliar o nervo ótico direcionando seus axônios para o corpo geniculado lateral.

Para maiores informações:
  • Dr. S. Fabián Lerner pode ser contactado no Marcelo T. de Alvear 2010, piso 2 D C1122AAF, Buenos Aires, Argentina; +54-911-4417-1392; fax: +54-11-4961-9258; e-mail: fabianlerner@fibertel.com.ar.
  • Dr. Robert N. Weinreb pode ser encontrado na University of California, San Diego, 9415 Campus Point Drive, La Jolla, CA 92093; +1-858-534-6290; e-mail: weinreb@eyecenter.ucsd.edu.
Referências:
  • Levin LA, Ritch R, Richards JE, Borrás T. Stem cell therapy for ocular disorders. Arch Ophthalmol. 2004;122(4):621-627.
  • Schwartz R. The politics and promise of stem cell research. N Engl J Med. 2006;355:1189-1191.
  • Erin L. Boyle é Redatora da OSN, e quem cobre todos os tópicos da oftalmologia.