Em Debate: Olho seco e alergia ocular
Ocular Surgery News levantou-se a seguinte questão a um painel de especialistas: Como diferenciar os sintomas do olho seco dos da alergia ocular?
Lourdes Arellanes García:
Pacientes com olho seco tendem a ser maiores
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Lourdes Arellanes García |
Nos pacientes com olho seco as principais manifestações são sensação de corpo estranho, ardência e prurido. Em ocasiões podem referir vermelhidão ocular, foto-sensibilidade e secreção filamentosa escassa, estes últimos sintomas geralmente apresentam-se em casos muito severos. Muitos de estes sintomas também podem ser manifestações de conjuntivite alérgica, porem os pacientes com olho seco normalmente são de maior idade — 5ª e 6ª décadas — na sua maioria mulheres que apresentam a menopausa. Algumas doenças do tecido conectivo, como a artrite reumatóide, são causa comum de olho seco neste mesmo grupo etário, sendo importante descartar esta associação.
Por outro lado devemos lembrar que alguns medicamentos podem causar deficiências na produção de lágrima, entre os mais usados freqüentemente estão os antidepressivos.
Recentemente foi descrita a síndrome do “prédio doente”, que esta relacionada com a falta de iluminação e ventilação natural em muitos dos prédios em que trabalhamos. Isto implica o uso constante de ar condicionado ou aquecedores que podem provocar ou agravar os casos de olho seco, e se a isto adicionamos o uso generalizado de computadores e a prolongação do tempo entre cada pestanejada, observado em seus usuários, adiciona-se um elemento a mais que afeta a estabilidade do filme lacrimal.
Os casos de alergia ocular podem apresentar-se em qualquer idade, embora sejam geralmente mais freqüentes em crianças, também pode ser más aguda, acompanhada de epifora e secreção de material hialino abundante, o paciente pode referir foto-sensibilidade importante e prurido severo.
Embora parecesse que ambas entidades têm apresentações muito diferentes, na prática do dia a dia continuamos encontrando pacientes que foram tratados durante períodos prolongados como casos de conjuntivite alérgica, sem sucesso algum. A medição do tempo de ruptura do filme lacrimal, as probas de Schirmer I e II, a coloração com Rosa de Bengala e um esfregaço de secreção conjuntival, ajudarão a solucionar o dilema diagnóstico.
- Dra. Lourdes Arellanes García é chefe da Clínica de Doenças Inflamatórias Oculares, Associação Para Evitar a Cegueira no México; e-mail: lourdes. arellanes@apec.com.mx.
Denise de Freitas:
Sintomas e sinais são diferentes
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Denise de Freitas |
Do ponto de vista epidemiológico, a faixa etária predominante da alergia ocular é a infância, enquanto que no olho seco há uma predominância nas mulheres acima dos 40 anos de idade.
Em relação aos sintomas, no olho seco predominam o ardor, queimação e sensação de corpo estranho, que aumentam quando são realizadas atividades que exigem fixação visual prolongada, exposição ao vento, ar condicionado etc. Na alergia o mais importante é o prurido o qual pode ser exacerbado quando há exposição a determinados alérgenos. O olho seco pode apresentar-se com prurido, mas de intensidade leve e em freqüência bem menor em comparação à alergia.
Em quanto aos sinais, no olho seco encontramos uma diminuição do filme lacrimal, com aumento de debris, muco e ceratite punteada secundária localizada na região interpalpebral. A conjuntiva encontra-se hiperemiada, mas com discreta reação folicular ou papilar. Já na alergia há uma reação papilar que, dependendo do tipo pode acometer tanto as conjuntivas tarsais como o limbo. A córnea também pode apresentar ceratite punteada um pouco mais grossa localizada no terço superior da córnea. Pacientes com alergia podem apresentar úlcera em escudo, freqüentemente localizada no terço superior da córnea.
Do ponto de vista laboratorial, um esfregaço conjuntival de olho seco pode revelar aumento de células caliciformes e colonização por bactérias saprófitas como Corynebacterium xerosis. Já na alergia encontramos um esfregaço com predomínio de eosinófilos que, dependendo do tipo de conjuntivite alérgica podem estar íntegros ou com grânulos livres.
É importante ressaltar que a alergia ocular pode evoluir com olho seco devido ao acometimento inflamatório crônico da conjuntiva.
- Dra. Denise de Freitas é professora afiliada e chefe do Setor de Doenças Externas Oculares e Cornea, Departamento de Oftalmologia, Universidade Federal de São Paulo. Pode ser contatada na Rua Botucatu, 822, São Paulo, SP, Brasil, 04023-062; +55-11-5085-2015; fax: +55-11-5573-4002; e-mail: dfreitas@pobox.com.
Enrique A. Urrets Zavalía:
Podem estar presentes simultaneamente
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Enrique A. Urrets Zavalía |
As alergias oculares e o olho seco são transtornos crônicos que podem estar presentes simultaneamente no mesmo paciente, dificultando o diagnóstico diferencial.
As alergias oculares, que correspondem a transtornos imunológicos de hipersensibilidade, podem apresentar-se em qualquer grupo etário. Embora sejam mais freqüentes na infância e adolescência, algumas formas como as ceratoconjuntivites atópicas são próprias do adulto.
Em geral, o olho seco geralmente apresenta-se em pessoas adultas respondendo quase sempre a patologias oculares ou sistêmicas, a idade ou a medicação habitual, que provoca diminuição da secreção lagrimal, alteração da regularidade da superfície córneo-conjuntival e/ou disfunção meibomiana. O olho seco em pessoas jóvens está associado com o uso excessivo de lentes de contacto, exposição ambiental prolongada e excesso de fixação ou atenção visual. O prurido constitui o principal sintoma da alergia ocular enquanto que ardor lho é para o olho seco.
Outros sintomas das alergias oculares são epifora, olho vermelho, secreção mucosa, edema palpebral, ardor e fotofobia. As conjuntivites alérgicas geralmente acompanham-se de rinite ou outras manifestações de hipersensibilidade imediata como bronquite ou dermatites.
Alem de ardor; a sequidão ocular pode apresentar-se com sensação de corpo estranho, olho vermelho, visão flutuante, sensação de olho seco, aspecto triste do olhar, o pestanejar mais freqüente e consciente e, às vezes, lagrimejo. O ardor e a sensação de corpo estranho é percebido em quase todo momento e acalma ao fechar os olhos. Aumentam ao fixar a visão, com a exposição a fumaça de cigarro, e em ambientes artificialmente climatizados.
- Dr. Enrique A. Urrets Zavalía é chefe do Serviço de Oftalmologia, Clínica Universitária Reina Fabiola, Universidade Católica de Córdoba. Pode ser contatado em Oncativo 1248, 5000 Córdoba, Argentina; tel/fax: +54-351-414-2150; e-mail: oftalmologia@fabiola.uccor.edu.ar.