Em Debate: Culturas de infecções corneanas
Recentemente têm sido reportados surtos de ceratite micótica em várias regiões do mundo. Alguns serviços oftalmológicos não fazem culturas de amostras de infecções corneanas de rotina. Em Debate levantou a seguinte questão a duas especialistas: Em quais circunstancias você realiza uma cultura em um paciente com uma lesão corneal?
Alejandro Aguilar
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Alejandro Aguilar |
O tratamento de uma lesão corneana sem um diagnóstico etiológico é uma temerária ação que pode conduzir a omitir, entre outros, o diagnóstico de uma lesão micótica, com conseqüências graves para a saúde da superfície ocular com o risco implícito de se pôr em perigo à totalidade do globo ocular.
A ausência de fatores predisponentes à pode ajudar a descartar a possível origem micótica da lesão, sem esquecer totalmente essa possibilidade. Entre os fatores são condições ambientais propicias a sua proliferação, área geográfica do paciente e sua atividade, antecedentes de corpos estranhos de origem vegetal, uso de lentes de contato, doenças severas da superfície ocular como olho seco em pacientes imunodeprimidos, ou olho seco em transtornos autoimunes, do colágeno e atópicos, ceratite neurotrófica de diversas etiologias (especialmente diabetes) e tratamentos sistêmicos com corticoides.
Da mesma maneira ocorre com as imagens biomicroscópicas que observamos na lâmpada de fenda, já que uma lesão com características clínicas inequívocas de infecção bacteriana, pode mascarar uma lesão micótica.
Seguindo estas considerações, é absolutamente indispensável obter amostras de toda lesão para se obter um diagnóstico etiológico correto e o paciente deverá ser avaliado seguindo uma conduta de acordo com o resultado.
Exames de laboratório especialmente culturas, devem ser realizados de rotina em todos os casos de lesões corneanas e todos os oftalmologistas devem estar conscientes disto, já que sua omissão pode constituir um grave erro, difícil de esquecer.
Para maior informação:
- Dr. Alejandro Aguilar é chefe do departamento de superfície ocular no Centro Médico Las Lomas. Pode ser contatado em Monseñor Magliano 3041, Lomas de San Isidro; e-mail: aguilara@arnet.com.ar.
Denise de Freitas
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Denise de Freitas |
As principais indicações de cultura de infecção corneana são: O local do infiltrado inflamatório na córnea, gravidade, taxa de progressão, fator de risco ou gatilho e suspeita clínica.
Em relação ao sítio da infecção corneana, é mandatório solicitar para ceratites centrais envolvendo o eixo visual devido ao risco de perda de visão já estar presente.
Casos com grandes infiltrados corneanos (maiores que um quadrante corneano) que se estendam ao estroma médio ou profundo, também deveriam ser estudados.
Progressão rápida geralmente envolve um microrganismo patogênico e virulento. Isolar o microrganismo responsável nestes casos, com determinação da sensibilidade antibiótica, talvez seja o único meio de controlar tais infecções, principalmente se não estiverem respondendo à antibioticoterapia de amplo espectro empírica, utilizada rapidamente como o primeiro passo para tentar controlar a infecção. Em contraste, se o caso está crônico e não-responsivo ao tratamento instituído, a investigação laboratorial também se torna uma importante ferramenta devido aos casos de resistência.
Os casos com fatores de risco conhecidos tais como trauma ocular com materiais orgânicos (vegetais), lentes de contato, LASIK, ou características clínicas que sugiram fungo, acanthamoeba, mycobacteria, requerem investigação laboratorial. Nestes casos também um microrganismo incomum poderá estar envolvido no processo.
Em uma situação particular de suspeita de infecção fúngica, todos os pacientes deveriam ser submetidos à pesquisa laboratorial. Algumas clínicas rotineiramente não realizam a cultura porque os antibióticos de amplo espectro são eficazes em 90% das infecções bacterianas, mas é importante ter em mente que estes são casos de bactérias e não de fungos.
Esta regra não se aplica a infecção fúngica. Não existe diagnóstico presumido ou tratamento empírico para ceratite fúngica. O diagnóstico requer a confirmação laboratorial com o microrganismo isolada em cultura ou no raspado.
Para maior informação:
- Dra. Denise de Freitas é chefe do serviço de cornea no departamento de oftalmologia na Universidade Federal de São Paulo, Brasil. Pode ser contatada em dfreitas@pobox.com.