Esquema quimioterápico de duas drogas associado com tratamento focal: Efetivo para o tratamento do retinoblastoma
Estudo demonstra resultados comparáveis a esquema de três drogas, mais tóxico; aplicação de laser de diodo causa menos lesões ao tecido adjacente normal.
Um regime de quimioterapia combinado a tratamento focal intensivo apresentou-se efetivo como tratamento do retinoblastoma intra-ocular, de acordo com uma publicação recente.
“Este esquema de tratamento apresenta resultados comparáveis aos resultados de tratamentos com esquemas mais tóxicos e merece uma avaliação mais profunda”, revelou o Dr. Matthew W. Wilson e colaboradores em artigo recente publicado American Journal of Ophthalmology.
“A maioria dos estudos continua a focar-se na eficácia do regime de três drogas, mesmo para pacientes com lesões intra-oculares de estágios inferiores”.
Para esta série de casos não-comparativo, retrospectivo, intervencional, os investigadores revisaram os prontuários de 21 pacientes consecutivos tratados com vincristina e carboplatina associadas a tratamento focal intensivo para retinoblastoma intra-ocular. Cinco pacientes foram excluídos da análise – quatro por causa da incorporação do etoposídeo no esquema quimioterápico e outro pela retirada da vincristina.
Protocolo de tratamento
Os 16 pacientes remanescentes (11 com tumores bilaterais e cinco com envolvimento unilateral) foram tratados com oito ciclos de carboplatina (560 mg/m2) e vincristina (0,05 mg/kg) a cada 3 semanas. Para pacientes com função glomerular menor que 50 ml/min/m2, a dose de carboplatina foi modificada para se obter uma abaixo da curva de 6,5.
“Ao invés de atrasar o tratamento local até a observação de progressão da doença, iniciamos a consolidação logo após se completar o segundo ciclo de quimioterapia com vincristina e carboplatina”, observaram os autores. Os tratamentos focais incluíram crioterapia, laser de diodo e fotocoagulação com argônio e aplicação de placa de braquiterapia.
“O número de terapias focais foi anotado por olho ao invés do número de tratamentos por tumor”, revelaram os investigadores. “Isso é porque o último método excluiria os tratamentos empregados para erradicação de sementes vítreas que tenham se desenvolvido após o diagnóstico estabelecido”.
Todos os pacientes foram tratados entre Novembro de 2000 e Agosto de 2003. As suas idades variaram entre 2 meses e 23 meses (média de idade de 12,7 meses). A média de seguimento a partir do início do tratamento foi de 23 meses (variando entre 10 a 33 meses). Os resultados principais foram o fato de se evitar a radioterapia externa e manutenção do olho. Manutenção sem eventos, definida como não-aplicação de radioterapia externa e/ou enucleação, foi calculada baseada no número de olhos tratados ao invés do número de pacientes.
“Nossa compreensão atual do retinoblastoma, se apóia em olhos ao invés do paciente, como unidade de medida”, revelam os autores. “Cada tumor individual representa um evento molecular individual e desta forma tumores bilaterais representam eventos independentes”.
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Imagens: Wilson MW |
Estadiamento tumoral
Dos 27 olhos tratados, sete foram classificados como grupo Reese-Ellsworth 1, 2 ou 3, e 20 foram classificados como grupo 4 ou 5. O número médio de tumores por olho, no momento de diagnóstico foi de dois (variando de um a nove), de um total de 71 tumores. A média de alturas máximas de cada tumor era de 3 mm e a média de comprimentos máximos na base era de 3 mm. Trinta e seis tumores estavam localizados posteriormente ao equador e 35 estavam localizados sobre ou anteriormente ao equador do olho.
Todos os olhos apresentaram resposta à quimioterapia e nenhum paciente desenvolveu extensão extra-ocular ou metástases. Não foram observadas mortes.
Um total de 193 tratamentos focais foi administrado a 26 de 27 olhos. O número médio de tratamentos para cada olho foi de 5,5 (variando entre 0 e 19). As duas formas de tratamento focal mais administradas foram o tratamento com laser de diodo (112 tratamentos) e crioterapia (78 tratamentos).
Laser de diodo
Os autores observaram que uma das vantagens do laser de diodo é que ele pode ser administrado com o oftalmoscópio indireto aos tumores mais posteriores.
“O laser de diodo também pode ser aplicado de forma bem precisa com menos danos colaterais ao tecido normal adjacente”, afirmam. “Desta forma, nos sentimos bastante confortáveis usando esta modalidade de tratamento como nosso tratamento focal agressivo”.
A porcentagem estimada de olhos com manutenção sem eventos (definida acima) aos dois anos e para todos os olhos foi de 56,1%. Cinqüenta e quatro por cento para os grupos 4 e 5 e 64,3% para os grupos 1, 2 e 3.
Oito olhos (30%) foram tratados com aplicação de radioterapia externa. A incidência cumulativa geral para radioterapia externa em 2 anos era de 32,8%. O tempo da aplicação da radioterapia externa foi definido como o tempo transcorrido do momento do diagnóstico até a primeira aplicação de radioterapia documentada. O tempo médio de radioterapia foi de 6 meses (variando entre 3 a 24 meses).
A taxa de manutenção do olho foi de 100% nos pacientes classificados nos grupos 1, 2 e 3 e 75% para os pacientes grupo 4 e 5.
Cinco olhos de cinco pacientes foram enucleados, todos eles pertencentes ao grupo 5. Dois destes cinco olhos haviam recebido aplicação de radioterapia externa prévia. O tempo médio até a enucleação foi de 20 meses (variando de 7 a 26 meses). Os autores advogam a “identificação de novas terapias que poupem os pacientes de efeitos tóxicos desnecessários, agudos e crônicos”.
Para Sua Informação:
- Dr. Matthew W. Wilson pode ser contatado em: Department of Ophthalmology, University of Tennessee Health Science Center, 930 Madison Ave., Memphis, TN 38163; e-mail: mwilson5@utmem.edu.
Referência:
- Wilson MW, Haik BG, et al. Effect on ocular survival of adding early intensive focal treatments to a two-drug chemotherapy regimen in patients with retinoblastoma. Am J Ophthalmol. 2005;140:397-406.
- Bob Kronemyer è correspondente de OSN radicado en Elkhart, Ind. (E.U.A.).