Combinação de tecnologias multifocais pode levar a não dependência dos óculos
Compreender a posição do paciente pode guiar o cirurgião na seleção da melhor LIO multifocal a ser utilizada no segundo olho.
Compreender a avaliação do paciente de sua visão após o implante de uma LIO multifocal pode guiar o cirurgião na seleção da melhor LIO multifocal a ser implantada para o segundo olho de cada paciente, revelou cirurgião.
Para livrar o paciente de sua dependência dos óculos, nas mais variadas exigências de visão, uma LIO multifocal a ser implantada no segundo olho pode ser a melhor opção.
Dr. Leonardo Akaishi revelou que ele iniciou a combinação de diferentes tecnologias de LIOs multifocais em pacientes de catarata previamente selecionados há aproximadamente 8 meses atrás. Pois observou que uma das maiores queixas dos seus mais de 900 pacientes operados de ambos os olhos com implantes AcrySof ReSTOR (Alcon) foi a perda da visão intermediária.
Em sua entrevista para a Ocular Surgery News, Dr. Akaishi ressaltou que prefere que os implantes sejam os mesmos em ambos os olhos, mas que aprendeu que observar as necessidades de cada paciente, individualmente, poderia levar a resultados excelentes. Ao invés de implantar as LIOs automaticamente, ele implanta uma LIO e, com base nas observações feitas pelo paciente e sua satisfação no pós-operatório, escolhe a segunda lente.
“Prefiro usar a mesma LIO”, afirmou. “Esta é minha primeira escolha. Se após 2 ou 3 semanas com a LIO implantada, o paciente faz observações acerca de sua visão intermediária e suas necessidades como mais luz para leitura, prefiro implantar outra tecnologia de LIO”.
Dr. Akaishi apresentou seus resultados com combinações de LIO e de tecnologias de LIOs multifocais na Congresso Mundial de Oftalmologia, em São Paulo, Brasil, país onde exerce sua clínica.
Os fatos
A tecnologias refrativa e difrativa de LIOs multifocais apresentam cada uma, suas vantagens e desvantagens, revelou ele em sua apresentação.
A asfericidade zonal da ReZoom multifocal (Advanced Medical Optics), que é uma LIO refrativa, promove uma excelente visão intermediária, 100% de transmissão de luz e excelente para longa distância. Entretanto, continua, oferece uma visão relativamente fraca para perto e uma rapidez de leitura menor, provavelmente dependente do tamanho pupilar.
A AcrySof ReSTOR, LIO multifocal de tecnologia difrativa apodizada, oferece uma visão para perto excelente, boa rapidez de leitura, mas visão intermediária e sensibilidade ao contraste menores e alguma diminuição na transmissibilidade da luz.
A Tecnis Multifocal da AMO é também uma LIO de tecnologia difrativa. Combina tecnologia multifocal com tecnologia asférica o que melhora a sensibilidade ao contraste compensando a aberração esférica de cada olho. A Tecnis Multifocal ainda não foi aprovada para uso nos Estados Unidos pela agência regulatória mas encontra-se aprovada na Europa. Foi lançada na América Latina durante o Congresso Mundial de Oftalmologia.
O implante da mesma multifocal em ambos os olhos pode ser a melhor opção para alguns pacientes, observou ele.
Como exemplo, ele observou o caso de pacientes que usam muito o computador, dirigem durante o dia na maioria das vezes e lêem pouco ou moderadamente que podem achar que as lentes refrativas sejam a melhor opção. Por outro lado, leitores costumazes, artesãos, motoristas noturnos e cinéfilos podem estar mais bem servidos com as LIOs difrativas, observou ele.
Mas Dr. Akaishi notou que muitos pacientes não se enquadram bem nas duas categorias.
“A maioria dos meus pacientes ... precisam de todos os tipos de visão”, afirmou.
A melhor solução para estes pacientes pode ser integrar as tecnologias multifocais refrativa e difrativa, disse.
Bons resultados
Dr. Akaishi apresentou seus resultados onde comparava a dependência dos óculos em pacientes com LIOs multifocais iguais ou combinadas.
Em 100 pacientes que foram submetidos a implante de LIO bilateral ReZoom ou ReSTOR, com uma média de seguimento de 4 meses, o grupo ReSTOR apresentou uma média de 89% de independência dos óculos e o grupo ReZoom apresentou uma média de 75% de independência.
Ele observou ainda que com o uso de tecnologia combinada, ReSTOR-ReZoom e Tecnis-ReZoom, um grupo de 88 pacientes ReSTOR-ReZoom seguidos por uma média de 2 meses e 15 pacientes com Tecnis-ReZoom seguidos por uma média de 1 mês apresentavam uma independência de óculos de 100%.
No grupo ReSTOR-ReZoom, a média de acuidade visual para longe era de 20/20 e a média de acuidade visual para perto era comparável à acuidade visual do grupo ReZoom bilateral mas com uma maior rapidez de leitura. O grupo Tecnis-ReZoom apresentava também uma acuidade visual de 20/20 assim como uma rapidez de leitura maio que ambos os grupos bilaterais.
Dr. Akaishi revelou que suas impressões iniciais da combinação de Tecnis-ReZoom são que reduz a quantidade de halos e glare em relação à combinação ReSTOR-ReZoom, menos necessidade de luz para leitura de perto, distância de leitura mais confortável, mais sensibilidade bilateral ao contraste e menos aberração esférica.
Ele afirmou que esta nova combinação pode ser a “solução refrativa completa” para todas as distâncias e condições, embora mais estudo seja necessário.
Tempo investido com o paciente
Encontrar a solução certa para a correção da presbiopia em pacientes diferentes que são submetidos a cirurgia de catarata demanda grande comprometimento de tempo, mais que a cirurgia de catarata monofocal tradicional, disse Dr. Akaishi a Ocular Surgery News.
“Necessito de gastar mais tempo com o paciente. Dois anos atrás, eu gastava no máximo 5 minutos com cada paciente. Hoje, gasto 15 a 20 minutos e minha técnica gasta 2 horas”, revelou. “Para mim, é muito importante. Estamos retornando a 20 ou 30 anos atrás quando o médico gastava mais tempo com o seu paciente”.
Dr. Akaishi revelou que os cirurgiões devem conhecer melhor seus pacientes e suas características antes do procedimento de implante de uma LIO multifocal, sejam elas iguais ou combinadas.
“É muito importante lembrar de conversar com os pacientes antes da cirurgia e conhecer suas características”, afirmou. “Se o paciente joga cartas, que tipo de jogo ele prefere? Se ele joga cartas e as cartas estão a 2 metros de distância, sobre a mesa, isto é diferente de uma visão de leitura”.
Se o cirurgião adota a estratégia de implantar uma LIO multifocal antes de decidir sobre a outra, ele deve ouvir cuidadosamente as necessidades e queixas do paciente.
“Se o paciente fecha um olho e a seguir fecha o outro, ele vai sentir a diferença pois a qualidade de visão é diferente”, com a LIO multifocal e o cristalino ainda no lugar no outro olho. “Solicito ao paciente que não compare a acuidade visual. Não compare a visão pois é muito diferente”.
“Infelizmente não temos a LIO perfeita neste momento”, afirmou. “Devemos fazer algo para ajudar os pacientes e 100% dos meus pacientes [com a tecnologia combinada de LIOs] estão independentes dos óculos”.
Para mais informação:
- Dr. Leonardo Akaishi pode ser contatado no Hospital Oftalmológico de Brasília - L-2 Sul 607, Brasília, Asa Sul 70200-670, Brasil; +55-6134424003; e-mail: leonardoakaishi@hobr.com.br.
- Katrina Altersitz é redatora da equipe OSN e cobre todas as facetas da oftalmologia.