January 01, 2013
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Bancos de olhos ao redor do mundo ampliam os padrões e expandem a missão

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Apesar dos muitos desafios, os bancos de olhos continuam a crescer ao redor do mundo, oferecendo uma contribuição inestimável para os avanços, a segurança e o sucesso da cirurgia corneana.

Nos países ocidentais, os bancos de olhos possuem uma rede sólida de serviços, cobrindo áreas amplas e atendendo de forma eficiente a crescente demanda por tecidos oculares. Em outras partes do mundo, onde a demanda é ainda maior devido à alta taxa e múltiplos casos de cegueira corneana, a população está ainda desassistida. Entretanto, associações internacionais estão trabalhando incansavelmente para chegar até estas pessoas e atender suas necessidades.

Dados recentes publicados pela Eye Bank Association of America, pela European Eye Bank Association e pela Vision 2020 oferecem uma visão das diferentes situações.

 
Mark J. Mannis

Nos EUA, os 85 bancos de olhos domésticos relataram 110.600 doações em 2010. Foram oferecidos 59.271 enxertos corneanos e foram executados 42.642 transplantes de córnea.

Na Europa, aproximadamente 20.000 procedimentos de transplante de córnea são executados a cada ano e 35.000 córneas são obtidas.

Na Índia, o país com a maior população com cegueira corneana do mundo, existe a necessidade de cerca de 100.000 anualmente. Mas existem apenas cerca de 17.000 olhos obtidos a cada ano, dos quais somente 50% a 60% são utilizados.

Bancos de olhos na América Latina

Os bancos de olhos na América Latina sofrem de falta de consistência, declarou o Dr. Mark J. Mannis, FACS, presidente anterior da Pan American Association of Eye Banks (APABO).

“Um dos maiores e mais ativos bancos de olhos do mundo está baseado em Sorocaba, no Brasil. Lá são processadas mais de 300 córneas por mês. A Colômbia também possui uma eficiente rede bancos de olhos pequenos e muito funcionais. O resto do subcontinente, inclusive as Américas Central, do Sul e o Caribe possuem bancos de olhos muito mal organizados, muito atrás dos EUA em termos de funcionalidade”, declarou.

Com a cegueira corneana sendo uma das causas mais comuns de perda de visão na área, os bancos de olhos não são capazes de cobrir as necessidades de transplante e as córneas doadas são importadas principalmente dos EUA.

A promoção dos programas de bancos de olhos na América Latina é um dos objetivos principais da APABO.

“Possuímos programas educacionais para instrução de médicos e técnicos nos procedimentos e padrões de qualidade de bancos de olhos”, disse Mannis.

Donald T. H. Tan

Mas existem desafios que vão “além das paredes” das práticas internas de bancos de olhos, declarou.

“O primeiro maior desafio é educar as pessoas, as quais na maioria não estão conscientes da necessidade de doação na América Latina. O segundo é atrair suporte governamental para os bancos de olhos. O terceiro é fazer médicos e administradores compreenderem a importância da regionalização dos bancos de olhos. Ter uma miríade de pequenos bancos de olhos associados a um hospital ou centro específico é uma prática que nunca funciona em longo prazo”, afirmou.

Bancos de olhos na Ásia

Desde sua fundação em 2009, a Association of Eye Banks of Asia (AEBA) vem desenvolvendo um programa de intervenção ao nível continental para melhorar a disponibilidade, a eficiência e os padrões de qualidade dos bancos de olhos.

“O primeiro passo é aumentar a obtenção de córneas, aumentando o nível de educação do público sobre a doação de olhos, para lidar comas demandas emergenciais e eletivas de tecido corneano”, Donald T.H. Tan, MBBS, FRCSG, FRCSE, FRCOphth, presidente da AEBA membro do OSN APAO Edition Board, afirmou.

Diferente da Europa e dos EUA, o número de pacientes que necessitam um transplante corneano na Ásia ultrapassam muito o número de doações de córnea.

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“Existe uma falta de tecido doado no continente, com as listas de espera chegando aos milhares. A Tailândia possui um banco de olhos importante, mas 2.000 pacientes aguardam um transplante corneano. Mianmar também possui um banco de olhos organizado para obtenção de tecido, mas uma lista de espera com 3.000. Coreia, Malásia, Indonésia e Vietnã também possuem bancos de olhos e também grandes listas de espera, mas são geralmente incapazes de obter mais de 50 córneas por ano”, disse Tan.

A Índia possui mais de 600 bancos de olhos e centros de doação de olhos, com uma associação nacional de bancos de olhos ativa, a Eye Bank Association of India (EBAI). A tendência de coleta, entretanto, não é consistente. Os números diferem muito por região geográfica e possuem notável flutuação de ano para ano.

De acordo com um relatório publicado no Punarjyoti, o boletim informativo trimestral da EBAI, “A parceria público-privada para estabelecer um sistema de bancos de olhos estruturado ajudaria muito na reversão esta tendência e em garantir uma tendência estável. A necessidade atual de córneas justifica um aumento na coleta de pelo menos 75% a 100% a cada ano, se devemos chegar a um número de coleta de 200.000 córneas”.

Alcançar os bancos de olhos e buscar estratégias de melhoria são parte da missão da AEBA, mas diversos problemas precisam ser resolvidos.

Muitas áreas na Ásia possuem estruturas legais desfavoráveis ou confusas para doação e ausência de financiamento e infraestrutura para saúde.

“Bancos de olhos não são uma prioridade para os legisladores e autoridades de saúde em países que estão lutando para oferecer cuidados médicos básicos”, disso Tan.

As infraestruturas básicas para suportar a doação de córnea estão ausentes em comunidades rurais, e arquipélagos, como a Indonésia, apresentar desafios logísticos. Além disso, o número e a disponibilidade de cirurgiões e técnicos especializados em córneas estão limitados pela falta de oportunidades educacionais e de treinamento.

Também existem poucas iniciativas públicas relacionadas à doação de órgãos nestes países, o que mantém baixas a consciência e a aceitação da doação de órgãos.

“Também existe a percepção de alguns impedimentos religiosos, culturais e sociais em algumas partes do continente”, afirmou Tan. “Em Cingapura nós percebemos que as preocupações religiosas eram um dos problemas principais com o qual tínhamos que lidar, e há cerca de 10 anos atrás nos aproximamos das principais organizações religiosas. Temos grupos religiosos hindus, budistas, muçulmanos e cristãos, e revelou-se que, apesar da população pensar que havia impedimentos religiosos, todos os seus líderes se expressaram a favor da doação de órgãos”.

Esta descoberta e muitas iniciativas de conscientização públicas tornaram Cingapura um dos três países onde a doação de olhos é alta; o transplante de córnea em Cingapura é um procedimento eletivo, sem listas de espera por córneas prolongadas. Os outros países são o Sri Lanka, onde a maioria da população segue uma forma de budismo que é proativa em relação à doação de órgãos, e as Filipinas, que possui legislação a esse respeito.

“Um grande exemplo do que a AEBA espera atingir é o estabelecimento do novo National Eye Bank of Sri Lanka (NEBSL), uma iniciativa governo para governo definida com a colaboração do Singapore Eye Bank, através da AEBA, na qual o programa de doação de olhos hospitalar de Cingapura foi replicado em Colombo. O NEBSL exemplifica a orientação da AEBA para estabelecer novos bancos de olhos de alta qualidade na Ásia e este começou a exportar córneas para outros países na Ásia”, disse Tan.

Estabelecer padrões de qualidade e oferecem diretrizes para bancos de olhos também estão entre os objetivos principais da AEBA e projetos de exclusão médica e orientações para obtenção para bancos de olhos na Ásia estão sendo atualmente escritos. A AEBA pretende iniciar um registro de bancos de olhos na Ásia para comparar dados sobre doação de olhos e sobre transplantes para ser um recurso de educação treinamento em países menos privilegiados da Ásia.

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Integração de pesquisas

Tanto nos Estados Unidos como na Europa, onde a doação é bem vista e o suprimento de córneas para transplante atende as necessidades internas, vários bancos de olhos estão ampliando seu escopo para a pesquisa, em colaboração com a indústria e instituições líderes.

O Lions Eye Institute for Transplant and Research de Tampa, EUA, é um dos maiores bancos de olhos e o único que combina banco de olhos e centro de pesquisa ocular no mundo, coletando aproximadamente 7.000 olhos humanos por ano. Cerca de 3.000 são qualificados para transplante corneano, enquanto o restante é usado para fins de pesquisa. Aos pesquisadores são oferecidas instalações para viver e trabalhar dentro do banco de olhos, usando tecido ocular com 4 a 5 horas desde o falecimento do doador.

“Oferecemos um alto volume de olhos humanos para trabalho e um tempo muito baixo entre o falecimento e preservação, além das tecnologias mais avançadas para pesquisa”, declarou Jason Woody, presidente e diretor executivo do Lions Eye Institute. “Também oferecemos uma oportunidade única para pesquisa em condições oculares específicas. Recebemos o histórico médico dos doadores e categorizamos os olhos dos doadores por doenças. Os pesquisadores podem trabalhar em grandes amostras de olhos humanos coletados recentemente com doenças específicas, como AMD, glaucoma ou retinopatia diabética, reduzindo a necessidade de testes em animais”.

Modelos integrados similares, com um forte foco em pesquisa, são encontrados em alguns bancos de olhos na Europa.

“Além da atividade principal dos bancos de olhos, a aquisição e a distribuição, estamos engajados na educação profissional e da comunidade, na pesquisa em medicina regenerativa e no diagnóstico e aconselhamento para doenças complexas da superfície ocular”, declarou o Dr. Diego Ponzin, diretor da Veneto Eye Bank Foundation em Veneza, Itália. “Também somos os primeiros do mundo a produzir e distribuir enxertos de células tronco corneanas reconstruídas in-vitro para o tratamento de patologias oculares não curáveis apenas por transplante corneano”.

Em 2006, o Veneto Eye Bank o primeiro caso bem sucedido de terapia genética para um problema de pele raro e genético em um paciente transplantado com um enxerto de pele feito de células tronco geneticamente corrigidas.

Bancos de olhos como parceiros em cirurgias

Com o desenvolvimento de novas técnicas de transplante corneano, os bancos de olhos adquiriram um papel ainda mais central e se tornaram parceiros ativos na cirurgia, declarou Mannis.

A queratoplastia endotelial ganhou popularidade rapidamente nos últimos anos. Nos EUA, o número de procedimentos cresceu de 2.500, em 2005, para 22.000 em 2010.

Diego Ponzin

“É quase a metade do número total de transplantes de córnea”, declarou Ponzin. “Na Itália, cerca de 6.000 procedimentos de queratoplastia são feitos a cada ano, e hoje pelo menos um terço são endoteliais”.

As técnicas lamelares anteriores respondiam bem às necessidades da Ásia, onde a cicatriz corneana de doenças infecciosas, traumas e as doenças que afetam as camadas frontais do olho, como o tracoma, a deficiência de vitamina A e a cegueira infantil estão muito difundidos.

“Se você olha as estatísticas dos diversos países ao redor do mundo, a Ásia possui a taxa mais alta de procedimentos de [queratoplastia lamelar anterior profunda]”, disse Tan.

Ao deixar o endotélio hospedeiro no lugar, a DALK reduziu o número de rejeições e aumentou o número de córneas que podem ser utilizadas, permitindo um número maior de transplantes.

“A DALK nos permite usar córneas com densidade celular endotelial mais baixas do que a PK e, com o estabelecimento do sistema de classificação de córneas do Singapore Eye Bank, que aloca córneas de densidade endotelial baixa especificamente para a queratoplastia lamelar anterior, aumentamos a utilização em pelo menos 15% em Cingapura. Além disso, O National Eye Bank de Sri Lanka, afiliado a AEBA, tem uma utilização de 93%, o que é enorme”, declarou Tan.

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Alguns dos maiores bancos de olhos, como os em Cingapura e no Sri Lanka, logo serão capazes de oferecer tecido pré-cortado para queratoplastia endotelial e atender suas áreas e também abastecer outros bancos de olhos na região.

Na América Latina, entretanto, a técnica mais amplamente usada é ainda a PK.

“Os hospitais não possuem as instalações para o corte dos enxertos lamelares e a maioria dos bancos de olhos não fornece tecido pré-cortado”, disse Mannis. “Sem uma rede sólida de bancos de olhos funcionais, a cirurgia corneana não pode progredir”. – por Michela Cimberle

Divulgação de informações: Mannis foi o presidente anterior da Pan American Association of Eye Banks. Ponzin é diretor médico da Veneto Eye Bank Foundation. Tan é presidente da Association of Eye Banks of Asia. Woody é presidente e diretor executivo do Lions Eye Institute for Transplant and Research.